Capítulo 7

POV Alícia Ferraiz

Na manhã seguinte, Alícia decidiu aproveitar as primeiras horas do dia para algo simples, mas necessário: comprar alguns itens para a casa e planejar, pouco a pouco, o que precisaria para a chegada do bebê.

Enquanto caminhava entre as prateleiras do pequeno mercado do bairro, sentia o peso de outra preocupação crescendo dentro dela: a irmã mais nova.

Será que seus pais estavam cuidando bem dela?

Ou estavam apenas tentando moldá-la para ser mais uma cópia arrogante e fria, assim como eles?

Esse pensamento a fez apertar o carrinho com mais força.

Ela não podia deixar que a irmã tivesse o mesmo destino que o dela.

Durante as compras, Alícia percebeu que havia passado mais tempo do que imaginava entre uma loja e outra.

No caminho de volta, decidiu ligar para a irmã mais nova.

Tinha quase certeza de que ela atenderia rápido aquela garotinha vivia com o celular na mão, seja jogando, seja perdida em algum livro digital.

Ela discou o número e, após poucos toques, ouviu a respiração leve da irmã do outro lado da linha.

— Oi, irmã… tudo bem? — perguntou a mais nova, com aquela curiosidade que Alícia conhecia bem.

— Por enquanto está indo tudo muito bem, e você? Como estão as coisas por aí? — respondeu, tentando manter a voz firme, mesmo com a ansiedade batendo.

— Não muito bem. — a voz da irmã soou mais baixa. — O papai começou a ficar preocupado com uma dívida. Pelo que eu sei, um homem veio aqui em casa e o ameaçou de morte.

Houve uma pausa curta antes que ela completasse, quase como se tentasse suavizar o peso da própria fala:

— Ele era, bem bonito, aliás. — disse num tom inocente, típico de alguém de treze anos que, apesar de jovem, já notava detalhes ao redor.

— Mas ninguém aqui falou o nome dele.

Alícia ficou em silêncio por alguns segundos, pensativa.

Por que só agora um cobrador havia aparecido?

Será que a dívida tinha crescido mais do que o pai podia pagar?

Ou ele teria pedido ainda mais dinheiro, se afundando de vez?

Ela sentiu o estômago revirar, mas empurrou aqueles pensamentos para longe. Não queria  e talvez nem pudesse  lidar com isso naquele momento. Havia coisas demais exigindo sua força agora.

— Pelo amor de Deus, Lara! Você estava olhando o moço de novo? — Alícia resmungou, exasperada. — Não é possível que você não esteja cuidando da sua vida escolar e já esteja aí, atrás de um boy!

Do outro lado da linha, Lara soltou um suspiro dramático. Alícia quase podia imaginar a irmã revirando os olhos antes de responder. afinal, ela sabia que, para alguém da idade dela, ficar reparando tanto nos adultos era errado, mas ainda assim fazia.

— Irmã… e como vai a sua gravidez? — Lara perguntou de repente, tocando em um assunto que ainda era delicado para Alícia.

Ela respirou fundo antes de responder. Tecnicamente, as coisas estavam  estáveis. Tinha conseguido um emprego novo havia apenas dois dias, o ex sumira completamente do mapa, os pais estavam longe demais para interferir e, por enquanto, sua vida seguia tranquila. Momentaneamente tranquila.

Ainda assim, Alícia não se importava com a ideia de recomeçar.

Se fosse para criar uma vida nova ao lado do bebê, ela faria isso sem olhar para trás.

O que ela não sabia era que aquela sensação momentânea de controle estava prestes a ruir.

Em breve, seu caminho cruzaria com o de um homem que carregava um mundo perigoso às costas  um mafioso que mudaria tudo.

Ainda assim, Alícia não se importava com a ideia de recomeçar. Se fosse para criar uma vida nova ao lado do bebê, ela faria isso sem olhar para trás.

Por mais que a insegurança batesse em alguns momentos, havia dentro dela uma força que teimava em não se apagar. Nos últimos meses, aprendeu a sobreviver sem a família, sem apoio e sem ninguém para segurar sua mão quando o medo apertava no peito. Estava cansada de depender de pessoas que só a machucavam.

Enquanto caminhava de volta para casa com as sacolas nas mãos, o céu começava a escurecer mais rápido do que o normal. As nuvens pesadas anunciavam chuva, e o vento gelado fazia com que ela apertasse os braços contra o próprio corpo, protegendo a barriga de forma instintiva.

— Vai dar tudo certo — murmurou baixinho, quase como um mantra que precisava ouvir para continuar andando.

Ao passar pela esquina de um bairro mais movimentado, teve a sensação estranha de estar sendo observada. Virou a cabeça discretamente, tentando não parecer paranoica, mas não viu ninguém específico. Apenas pessoas comuns: uma senhora carregando flores, dois homens discutindo ao longe, um carro preto parado na rua. Nada que parecesse perigoso… ainda assim, um arrepio percorreu sua espinha.

Ela acelerou o passo.

Chegando em casa, largou as sacolas no sofá e encostou as costas na porta fechada, soltando um longo suspiro. Aquela sensação de alívio ao estar dentro do pequeno apartamento era quase terapêutica.

No entanto, a conversa com Lara continuava martelando em sua mente. Um homem bonito ameaçando seu pai? A irmã havia falado de forma inocente, mas aquilo não era algo comum. Não era como se cobradores normais se dessem ao trabalho de intimidar uma família pessoalmente, ainda mais alguém como seu pai, que sempre fora astuto o suficiente para escapar de problemas sérios.

Ela sentou-se na cama e passou a mão pelo rosto, tentando afastar os pensamentos mais sombrios.

— Não… eles não fariam nada contra a Lara. Crianças não têm culpa de nada — disse para si mesma, mas nem ela acreditou totalmente.

Pegou o celular, escreveu uma mensagem perguntando se a irmã estava bem e apagou antes de enviar. Não queria deixá-la assustada, não queria demonstrar que estava preocupada. Mas estava. E muito.

O que Alícia não podia imaginar é que aquela pequena dívida, que parecia um problema distante e restrito ao passado da família, estava prestes a se tornar o elo entre ela e um homem capaz de derrubar tudo o que ela conhecia como seguro.

Em algum lugar da cidade, esse mesmo homem — de olhar frio, terno impecável e uma reputação capaz de fazer qualquer um tremer — já sabia o nome dela. Já sabia onde ela morava. E, principalmente, já havia decidido que ela faria parte dos planos dele.

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