(Continuação do Leonardo diamond)
A casa não sussurrava poder. Ela gritava.
Nem mesmo os empregados escapavam do peso do símbolo.
Em seus uniformes discretos, um broche dourado reluzia sobre o peito:
uma cobra entrelaçada em rosas vermelhas.
Era o selo da máfia Diamond.
Quem usava aquele emblema não podia ser tocado. Nem com os olhos.
Na Itália, esse era um fato.
Não boato. Não ameaça.
Lei silenciosa.
Até os mais tolos sabiam que tocar em alguém marcado pela rosa e a serpente…
Era sentença de morte.
E não só a própria, mas da linhagem inteira.
O aviso era claro:
Os Diamond não perdoavam.
Eles apagavam.
Na mansão Diamond, todos sabiam seu lugar.
E mais ainda: sabiam que manter o pescoço no lugar dependia exclusivamente de uma coisa obedecer às regras.
Não havia espaço para insolência.
Não havia margem para erros.
Os funcionários eram bem treinados, bem pagos, bem alimentados. E acima de tudo, conscientes de que trabalhavam para um homem que podia amar como um rei ou eliminar como um carrasco.
Leonardo não confiava em ninguém.
Era parte da natureza do cargo ou melhor, do sangue que carregava.
Mas também não era um tirano fútil.
Ao contrário: era generoso com os seus.
Aqueles que serviam na mansão viviam bem.
Podiam comer o que quisessem, desde que respeitassem o seu espaço e seus horários.
O café da manhã que sobrava após sua refeição enchia a mesa de fartura. E ele nunca se importava com quem consumia o que era dele desde que ninguém ousasse tocar em suas coisas enquanto estivesse presente.
Essa era a linha.
Simples. Clara. Inquebrável.
E por isso...
Todos o amavam. E o temiam.
Obedeciam sem questionar.
Não por medo apenas, mas por gratidão.
Afinal, lá fora, no mundo comum… eles seriam invisíveis.
Dentro dos portões da Mansão Diamond, eram alguém.
E sabiam disso.
O café da manhã foi servido com tranquilidade como de costume.
A enorme mesa de carvalho polido refletia a luz do lustre dourado acima, enquanto os pratos dispostos com precisão militar formavam um cenário digno de realeza.
Leonardo comia em silêncio.
Devagar.
Pensativo.
A única coisa indigesta naquela manhã era a convocação da mãe.
Donatella Diamond não mandava recados por nada.
Enquanto saboreava o café forte e a torrada com geleia artesanal, seu olhar permanecia fixo em lugar nenhum.
Pensava. Revirava possibilidades. Calculava riscos.
Talvez fosse o velho discurso.
Talvez, mais uma vez, fosse sobre o fato de que, aos 27 anos, ainda não havia apresentado uma mulher à família.
Ou um parceiro. Ou um herdeiro.
Na casa dos Diamond, a orientação sexual nunca foi um problema.
A perfeição, sim.
A excelência era o que importava.
Desde que entregasse resultados, mantivesse o nome no topo e cumprisse seu papel, pequenos “detalhes” podiam ser ignorados.
Um desvio aqui, outro ali tudo bem, desde que fosse discreto.
Mas um erro público? Um escândalo? Um rompimento de imagem?
Jamais.
A perfeição era obrigatória.
E a perfeição, no mundo dos Diamond, vinha com cobranças disfarçadas de conselhos e sorrisos.
Leonardo sabia.
Comia cada pedaço com calma… como se estivesse se preparando para uma batalha invisível.
Porque com sua mãe, era sempre assim.
Nada era dito diretamente.
Tudo era cobrado entre as entrelinhas.
Assim que finalizou o café da manhã, Leonardo agradeceu em voz baixa.
Imediatamente, os funcionários se dispersaram, voltando às suas rotinas com passos silenciosos como sombras treinadas.
Do lado de fora, seu motorista particular já o aguardava.
Postura impecável, mãos cruzadas à frente do corpo, olhos atentos.
Ao informar o destino, o homem apenas assentiu.
Nenhuma pergunta. Nenhuma hesitação.
Leonardo gostava assim.
Seguiram até a Ferrari preta estacionada em frente à entrada principal. O carro escolhido para aquele dia. Luxo, claro, mas discreto o bastante para quem precisava se mover sem chamar mais atenção do que o necessário.
O motor rugiu suave assim que as portas se fecharam.
O carro deslizou pela entrada da propriedade, em direção ao portão principal.
Ali, o símbolo “LD” em aço inox reluzente brilhava sob a luz da manhã.
O brasão de Leonardo Diamond.
Protegido por quatro seguranças altamente treinados, que estavam armados da cabeça aos pés embora ninguém pudesse ver.
Suas armas eram ocultas.
Seus olhos, treinados para detectar qualquer ameaça antes mesmo de ela existir.
A cada saída, Leonardo era acompanhado por uma certeza silenciosa:
bastava uma palavra sua para que qualquer nome deixasse de existir.
Não era sobre sangue.
Era sobre controle.
No país, muitos não pertenciam à máfia.
Mas ninguém ousava se meter com ela.
Não à toa.
A família Diamond tinha tentáculos em todas as esferas do poder:
política, negócios, comunicação e até nas sombras.
Espiões. Agentes infiltrados. Contatos em lugares que nenhum cidadão jamais imaginaria.
Olhos por todos os lados.
E o mais assustador?
Eles nunca piscavam.
Leonardo olhou pela janela enquanto a cidade começava a se abrir diante dele.
Mais um dia.
Mais um teatro social.
Mas, dessa vez algo estava prestes a mudar.
Cerca de meia hora depois, o carro finalmente estacionou diante do prédio da Star Produções, a empresa comandada por sua mãe.
Leonardo observou o edifício de fachada espelhada, como se já pudesse prever a conversa longa ou o interrogatório que o aguardava lá dentro.
Donatella Diamond nunca chamava sem um propósito.
E quando o assunto envolvia herdeiros, o clima sempre pesava.
Respirou fundo, ajeitou os punhos do terno e desceu do carro.
Imediatamente, seus seguranças o seguiram em silêncio, em formação natural dois à frente, dois atrás.
Nenhum olhar disperso. Nenhuma distração.
Leonardo caminhava com firmeza, os passos ecoando no mármore da entrada.
Mas, ao virar o corredor lateral que dava acesso à recepção principal.
esbarrou em alguém.
Parou no mesmo instante.
O corpo da outra pessoa também recuou com o impacto leve, mas direto.
Silêncio.
Leonardo ergueu os olhos devagar.
Mas ainda não disse nada.
Leonardo trocou poucas palavras com a jovem.
Ela parecia apressada talvez nervosa.
Por isso, limitou-se a observá-la por um segundo mais longo do que deveria.
Era bonita. Jovem.
Mas o que chamava atenção não era apenas a aparência, e sim o contraste:
O nervosismo nos olhos, a pressa nos passos naquele lugar.
O que alguém como ela fazia ali?
A dúvida passou por sua mente, mas não permaneceu.
Não era da sua conta.
E Leonardo não era o tipo de homem que se metia em assuntos alheios não sem um bom motivo.
Desviou o olhar.
Deixou a lembrança escorregar para o fundo da mente.
E então seguiu rumo ao elevador, os seguranças atrás dele, silenciosos como sombras.
As normas da família eram claras:
o herdeiro Diamond nunca andava sozinho.
Nem mesmo em território próprio.