Leonardo diamond narrando:
Eram sete da manhã na mansão Diamond.
O silêncio luxuoso do lugar costumava durar até, pelo menos, dez.
Leonardo odiava ser acordado cedo.
Na noite anterior, havia resolvido uma crise de perdas na organização — informações sigilosas que vazaram, carregamentos desviados, e um idiota que achou que podia brincar com o nome da família Diamond.
O problema foi “encerrado” pouco antes das cinco da manhã.
E o responsável? Bom… esse agora não causaria mais problema algum.
No quarto escuro e espaçoso, ele dormia profundamente, usando apenas uma cueca preta. O lençol de linho amassado ainda conservava o perfume amadeirado do banho rápido que havia tomado antes de apagar.
Mas o descanso durou pouco.
O celular vibrou em cima do criado-mudo. Uma, duas, três vezes.
Leonardo abriu os olhos devagar, mas com a expressão de quem queria assassinar o planeta.
Seu corpo musculoso se moveu com lentidão irritada.
Pegou o aparelho, atendeu sem olhar o nome na tela, e respondeu com a delicadeza de um rottweiler faminto.
— Fala.
Do outro lado, a voz nervosa de um de seus homens tentou iniciar uma explicação:
— Chefe, me desculpe, mas eu achei melhor ligar porque— o homem foi interrompido.
— Você ficou maluco? — rosnou Leonardo, com a voz rouca de sono e ódio. — Me acordar às sete da manhã… depois do inferno que resolvi ontem à noite? Você tem noção da merda que tá fazendo?!
Do outro lado, silêncio. Quase dava pra ouvir o homem suando.
Leonardo esfregou o rosto com uma das mãos, se sentando na beirada da cama. Seus músculos tensionados, o cabelo bagunçado e os olhos semicerrados compunham o retrato perfeito de um alfa mal-humorado, perigoso e ainda meio grogue.
Zeus, seu pastor alemão, entrou no quarto pela porta entreaberta. Se aproximou, abanando o rabo com cautela.
Apolo, o rottweiler, seguiu logo atrás, deitando ao pé da cama com um suspiro alto.
Os cães, ao menos, sabiam respeitar o tempo de descanso dele.
Leonardo respirou fundo.
— Fala logo. Já acordei, agora me irrita de vez.
A voz do homem no telefone soava como se ele andasse num campo minado.
— Sua mãe... pediu que o senhor fosse até a emissora de TV pessoalmente. Disse que é um assunto sério.
Leonardo fechou os olhos com força, esfregando as têmporas como se a simples menção "sua mãe" já fosse motivo suficiente para cancelar o dia inteiro.
Aquele aviso era mais perigoso do que qualquer problema da máfia.
O informante ainda tentou suavizar:
— Ela... ordenou.
Silêncio.
Do outro lado da linha, o homem respirou fundo, consciente de que acabara de jogar gasolina num incêndio.
Leonardo se levantou da cama em um movimento só, o corpo tenso e o rosto tão impassível quanto uma parede de concreto.
Poderoso. Imponente. Extremamente cruel quando precisava ser.
Leonardo Diamond era tudo que a máfia exigia.
Um homem feito de aço e silêncio.
Filho único da família Diamond. Herdeiro forçado de uma coroa que queimava.
E como se já não fosse o bastante lidar com o peso de ser “o nome da família”, ainda precisava enfrentar o verdadeiro terror da sua vida: as mulheres Diamond.
Sua mãe, Donatella Diamond, era uma força silenciosa e estratégica.
Sua avó, Giovanna, um furacão disfarçado de dama de luxo.
Ambas tinham a rara habilidade de manipular qualquer situação sem levantar a voz.
Eram o tipo de mulher que dava ordens com um sorriso calmo e só depois você percebia que estava obedecendo.
Muitos as subestimavam.
Leonardo não era um deles.
— Ok — respondeu seco. — Estou indo.
Finalizou a ligação com um simples toque.
Sem mais perguntas. Sem mais drama.
O que quer que fosse ele descobriria pessoalmente.
Leonardo se abaixou devagar e passou a mão firme sobre os pelos densos e escuros de Zeus e Apolo.
Ambos o observavam com atenção, como se analisassem seu humor antes de qualquer movimento. Não era só obediência. Era conexão.
Com eles, Leonardo era diferente.
Com os cães, havia afeto.
Com o resto do mundo... não.
Zeus lambeu o dorso da mão dele. Apolo deitou o focinho em sua perna, pesado como chumbo. Sabiam que o pai deles sairia. Sentiam.
Filhos de coração.
Companheiros leais.
E os únicos que nunca o traíram.
Alguns minutos se passaram até que uma batida suave na porta interrompeu o momento. Leonardo não olhou. Sabia quem era.
— Apolo, Zeus! — a voz feminina soou do outro lado, num tom entre o alívio e o aborrecimento. — Eu finalmente achei vocês!
A porta se abriu, e Miranda, uma das jovens empregadas da mansão, entrou apressada. Trazia o cabelo preso com pressa e olheiras que denunciavam as madrugadas anteriores.
Os cães latiram baixo, incomodados. Zeus chegou a mostrar os dentes. Não queriam sair dali. Muito menos com ela.
Leonardo nem se mexeu.
— Obedeçam à Miranda — disse em tom neutro, sem olhar para a funcionária. — Ela vai cuidar de vocês até eu voltar.
Se comportem ou vão ficar de castigo.
Os dois cães hesitaram por mais alguns segundos. Depois, lentamente, se aproximaram da moça. Ainda desconfiados.
Miranda sorriu aliviada, abriu a porta e fez um gesto quase teatral: uma reverência exagerada, como se estivesse diante de uma figura divina.
Leonardo observou de canto de olho, revirando os pensamentos.
Detestava aquilo.
Ser tratado como uma entidade sagrada, só porque era mafioso, herdeiro ou temido.
Não era um rei. Nem queria ser.
Só queria que as pessoas parassem de mentir.
E que o mundo parasse de cobrar dele algo que nunca pediu.
A porta se fechou atrás dos cães.
E ele ficou ali, sozinho de novo.
Após um banho rápido e revigorante, Leonardo vestiu um terno escuro sob medida.
O tecido deslizava sobre sua pele como armadura de luxo.
Ao descer as escadas de mármore negro, foi cercado pela opulência quase sufocante da Mansão Diamond.
Cada parede exibia retratos de gerações passadas: homens e mulheres que construíram a linhagem com sangue, estratégia e medo.
Ouro adornava tudo.
Maçanetas esculpidas à mão.
Corrimãos entalhados com serpentes e rosas.
Tapeçarias bordadas com fios dourados.
E até as cortinas ostentavam a riqueza com arrogância.