Capítulo 18.
FERNANDO NARRANDO:
O som do vinho deslizando da garrafa para a taça era quase terapêutico. Bordeaux, safra 2005. Nada menos do que eu merecia depois de uma semana cheia. Me recostei no sofá de couro italiano do meu apartamento na Park Avenue, cruzei as pernas e levei a taça até os lábios, sem pressa. O sabor encorpado, seco, desceu como uma lembrança boa.
É engraçado como certas coisas nunca mudam. O vinho continua sendo meu favorito. O skyline da cidade ainda parece desenhado só pra mim da janela da cobertura. E, mesmo depois de tudo, ainda penso nela. Júlia.
Não que eu me arrependa. Arrependimento é coisa de gente fraca. Eu sou Fernando. Filho de Marcos, neto mesmo que renegado de Antônio Clark. A porra do império dessa cidade tem sangue da minha família pulsando nas veias. Então não, eu não me arrependo. Mas penso. Talvez com um certo incômodo. Talvez com um leve desconforto no fundo da consciência. Nada que um bom vinho não resolva.
Júlia era perfeita, do jeito certo. Li