Capítulo 17.
JULIA MONTENEGRO:
Quase não dormi. Virei de um lado para o outro a noite inteira, com o corpo exausto, mas a mente acesa.
O céu clareava quando me levantei. O apartamento estava silencioso, envolto naquelas caixas empilhadas e sacos pretos que pareciam mais com símbolos de uma mudança forçada do que com uma nova fase. Fiz um café ralo, engoli uma fatia de pão dormido e comecei a carregar o carro.
Levei quatro viagens até encher o porta-malas e o banco traseiro. As caixas com roupas, utensílios e lembranças foram colocadas com cuidado, como se aquele empilhamento desajeitado fosse meu último gesto de dignidade. Antes de trancar a porta, me detive no batente. O apartamento estava vazio. As paredes brancas pareciam mais pálidas naquela manhã cinzenta.
Soltei um suspiro e deixei o olhar correr por cada canto.
Foi ali que sonhei com uma nova vida. E agora era ali que eu desistia.
Fechei a porta. Girei a chave lentamente, como se pudesse atrasar a despedida. Depois caminhei at