Capítulo 16.

JULIA MONTENEGRO NARRANDO:

Saí da sala do Gabriel sem olhar para trás. Se eu tivesse olhado, talvez tivesse perdido a força nas pernas. Talvez tivesse voltado lá e dito tudo que estava entalado na garganta. Mas não. Eu precisava seguir. Engolir o gosto amargo da humilhação e continuar andando. Como sempre fiz.

O salto dos meus sapatos batia firme no piso da recepção, e eu não sabia se aquele som era mais alto que a voz dele ainda ecoando na minha cabeça.

Precisa tanto quanto precisa de um homem que te foda melhor que o seu ex, igual disse na noite passada.

A audácia. A frieza. A crueldade calculada. E eu? Eu ali, sentada diante dele, engolindo tudo com a mesma dignidade que restava numa mulher prestes a desabar. Eu aceitei. O salário, o emprego, as entrelinhas. Porque não dava pra ser seletiva quando a vida te empurra pra beira do abismo.

Lá fora, o sol da tarde queimava minha pele, mas não consegui me importar. Meu corpo se movia no automático, como se minha mente tivesse
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