Chego no apartamento da Lucy mais cedo do que o combinado. O plano era buscá-la para sairmos juntos, mas acabo chegando um pouco antes. Subo sem avisar, já tão acostumado a ser parte daquele mundo pequeno e acolhedor que ela chama de lar.
Quando me aproximo da porta semiaberta, paro ao ouvir sua voz. Algo na maneira como ela fala me prende, me obriga a ouvir.
Lucy está com Felícia, a amiga que virou irmã para ela.
— Eu não queria contar — a voz de Lucy soa embargada, quase um sussurro cheio de dor. — Não queria que ele se sentisse culpado. Mas foi horrível, Lícia. Eu ouvi o pai dele falando... que eu não sou boa o suficiente. Que eu devia saber o meu lugar.
Cada palavra dela me atinge como uma facada.
— Ele disse que eu era de outro mundo — ela continua, e sua voz falha — como se eu fosse um peso, uma vergonha para a família.
Meus punhos se fecham.
— E o pior é que... eu sei que o Leo ama o pai dele. Sempre falou com tanto orgulho... Eu não quero ser o motivo de ele se afastar da famí