O silêncio aqui é espesso.
Não é o silêncio comum da noite, com grilos e o vento nas folhas. É outro tipo — mais denso, como um aviso que paira no ar. Desde que o sol se pôs, algo me aperta o peito. A casa está escura, isolada, com cheiro de madeira antiga e café amanhecido. Estou sozinha. A tia da Felícia foi embora no fim da tarde e só volta amanhã cedo, como sempre faz.
Eu pedi isso. Pedi esse isolamento. Pedi por distância. De Leo. Da família dele. Do escândalo. De tudo que me machucou.
Mas agora… agora me arrependo.
Meus dedos tocam minha barriga. Ainda não existe uma curva visível, mas eu já a sinto. Meu filho. Nosso filho. O mundo inteiro pode virar as costas, mas ele não. Ele me escolheu — e eu escolho ele. Para sempre.
Tranco a porta da frente. Depois a dos fundos. Checo todas as janelas.
Respiro fundo, tentando acalmar os pensamentos. Ligo a chaleira para fazer um chá, mas antes que a água ferva, meu celular vibra.
Número desconhecido.
Ignoro.
Vibra de novo. Uma chamada. E m