Três dias.
É esse o tempo que se passou desde que eu saí da casa da minha família com os punhos ensanguentados e o coração despedaçado.
Três dias em que eu tentei dormir.
Tentei me alimentar.
Tentei fingir que conseguia respirar com normalidade.
Não consigo.
Toda hora vejo o rosto dela.
Toda hora ouço o som da porta da minha casa se fechando.
Toda hora me pergunto se ela chorou depois de sair.
Ou se engoliu a dor em silêncio, como tantas vezes fez.
Eu começo pelo mais óbvio: Felícia.
Ela já me deu todas as negativas.
Mas hoje, cedo, voltei até o prédio dela.
Fiquei do outro lado da rua, observando.
Às nove da manhã em ponto, ela sai.
Caminha com passos apressados.
Parece nervosa.
Sigo. Não por desconfiança.
Mas porque é o único fio que me resta.
Ela vai até a farmácia. Compra algo.
Depois para em frente a uma banca de jornais.
E então, entra numa cafeteria.
É ali que decido agir.
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— Sei que você me viu — digo, puxando a cadeira na frente dela.
Ela ergue os olhos. Não se assusta.
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