Capítulo 29

Três dias.

É esse o tempo que se passou desde que eu saí da casa da minha família com os punhos ensanguentados e o coração despedaçado.

Três dias em que eu tentei dormir.

Tentei me alimentar.

Tentei fingir que conseguia respirar com normalidade.

Não consigo.

Toda hora vejo o rosto dela.

Toda hora ouço o som da porta da minha casa se fechando.

Toda hora me pergunto se ela chorou depois de sair.

Ou se engoliu a dor em silêncio, como tantas vezes fez.

Eu começo pelo mais óbvio: Felícia.

Ela já me deu todas as negativas.

Mas hoje, cedo, voltei até o prédio dela.

Fiquei do outro lado da rua, observando.

Às nove da manhã em ponto, ela sai.

Caminha com passos apressados.

Parece nervosa.

Sigo. Não por desconfiança.

Mas porque é o único fio que me resta.

Ela vai até a farmácia. Compra algo.

Depois para em frente a uma banca de jornais.

E então, entra numa cafeteria.

É ali que decido agir.

---

— Sei que você me viu — digo, puxando a cadeira na frente dela.

Ela ergue os olhos. Não se assusta.

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