Nada nisso parece real. A casa nova, o silêncio brando que ecoa pelas paredes limpas, o cheiro recente de tinta misturado com o perfume suave de lavanda que alguém borrifou no corredor — provavelmente a enfermeira. Tudo tem aquela aparência pronta, como se a vida estivesse sendo montada para nós, peça por peça, enquanto eu ainda tento entender o que continuo sentindo por dentro.
Cori entra no quarto novo com passos curtos, arrastados, carregando sua boneca contra o peito. Os olhos delas se iluminam quando vê a televisão presa na parede, as prateleiras com brinquedos, a luminária em forma de lua. A enfermeira — Helena — se abaixa ao lado dela e fala num tom tão gentil que até meu corpo tenso reage um pouco, afrouxando.
— Isso é tudo seu, Cori. E você pode me chamar de Lena — ela sorri, e os olhos dela brilham de um jeito calmo, experiente. — Sua mãe disse que você gosta de histórias antes de dormir.
Cori assente devagar, tímida, mas de um jeito curioso, e eu tento me lembrar se