RUSS
O carro está em silêncio, mas não é um silêncio comum. É denso, elétrico. O tipo de silêncio que engole qualquer palavra mal colocada e transforma em faca.
Lucile está ao meu lado, olhando a rua passar pela janela, e tudo o que consigo fazer é apertar mais forte o volante para não olhar demais.
Respiro fundo.
— Obrigado, mais uma vez. — digo, pela terceira vez naquela noite. Minha voz soa mais rouca do que eu pretendia. — Obrigado por ter ficado com Harriet.
Ela me olha de lado, um segundo apenas, mas suficiente para me desarmar.
— Eu já disse que não foi nada.
“Não foi nada.”
Ela não faz ideia do quanto foi. Não faz ideia do quanto significou pra mim chegar e encontrá-la lá, segurando a mão da minha irmã. Isso foi muito importante para mim.
Meu peito se aperta. Desvio o olhar de volta para a rua.
Lucile respira fundo, como se buscasse coragem, e pergunta:
— Como você está?
Minha resposta é automática, quase ensaiada:
— Estou bem. Trabalhando muito por