Mundo ficciónIniciar sesiónTudo o que a pequena Aurora Culiman queria de presente de Natal era uma mamãe. Com apenas sete anos, ela já entendia que seu pai, John, carregava no peito a dor de uma perda irreparável. Desde a morte de sua esposa, ele se fechou para o amor, dedicando-se inteiramente à fazenda e à filha. Clarice Madson, uma talentosa veterinária, viu sua vida desmoronar em um relacionamento abusivo. Em busca de liberdade e um novo começo, ela fugiu para o interior do Texas, onde o destino a levou até a fazenda dos Culiman. John precisava de alguém para cuidar de seus valiosos cavalos. Clarice precisava de uma nova chance. E Aurora? Ela só precisava de um milagre de Natal. Será que o coração endurecido de John encontrará um novo motivo para amar? E Clarice, conseguirá deixar o passado para trás e acreditar novamente no amor? Talvez o desejo de uma garotinha tenha o poder de transformar três vidas para sempre.
Leer másGlen Rose | Texas
John Culliman É mais um dia ensolarado em Glen Rose, uma cidade pacata no norte do Texas, onde tudo parece seguir a mesma rotina de sempre. Mas algo hoje está diferente, embora eu ainda não saiba o quê. Talvez seja a proximidade do Natal, ou talvez o fato de que Aurora, minha filha, tenha feito um pedido muito especial ao Papai Noel. Falta pouco mais de um mês para a noite mais esperada do ano, e eu sei que ela acredita, com toda a força de seu coração, que seu desejo será atendido. — Bom dia, papai! — Aurora se aproxima de mim com um sorriso tímido enquanto termino de calçar minhas botinas para começar o trabalho no campo. Ela me dá um beijo carinhoso no rosto, como faz todas as manhãs. — Bom dia, borboleta! Dormiu bem? — pergunto, tentando arrancar uma risada dela, como sempre. Mas, para minha surpresa, algo não está certo. Sua alegria usual não está ali. Posso sentir que ela não está tão radiante como de costume. — Sim, mas poderia ter sido melhor. — Ela dá de ombros, com um ar sério, e se senta à mesa, começando a tomar seu café da manhã. — Melhor? — Franzo o cenho. — Melhor como? — Tento entender o que está acontecendo, esticando a conversa. — Se eu tivesse uma mamãe, tudo seria melhor. — Aurora suspira profundamente e observa, com olhos cansados, as gotas de mel caindo lentamente sobre o waffle quente que sua nana, Lila, preparou para ela. Aquelas palavras me cortam o coração. Como posso explicar a dor de perder a mãe dela para uma criança tão pequena? Mariana, minha esposa, faleceu quando Aurora ainda era um bebê de três meses, e, desde então, minha filha só conheceu sua mãe através de fotos e sonhos. Ela é tão curiosa, tão cheia de vida, e esse vazio sempre a incomodou. E me incomoda também. — Mas você tem uma mamãe linda por sinal. Olhe ali na foto. — Aponto para o porta-retrato com a imagem de Mariana sobre o móvel da sala de jantar, tentando dar uma explicação simples. Aurora suspira mais uma vez, como se minhas palavras não fossem suficientes. — Eu sei, papai, mas falo de uma mamãe de carne e osso. É difícil conversar com anjos. Mamãe não aparece mais para mim desde que completei sete anos e só a vejo em sonhos. Isso é tão ruim. — Sua voz se quebra no final, e não consigo evitar sentir a dor que ela carrega. Me aproximo dela e, com o coração apertado, seguro sua mão. É difícil para mim também, mas minha dor nunca pode ser maior do que a dela. Preciso ser forte por nós dois. — Sabe, pequena, eu sei que nem sempre as coisas serão fáceis, mas sempre estarei aqui com você. E tenho certeza de que sua mãe, de alguma maneira, também estará. — Tento suavizar sua tristeza com palavras doces e reconfortantes. Aurora se solta da cadeira e, sem hesitar, se j**a nos meus braços. Seus pequenos braços me abraçam com força, como se, naquele gesto, pudesse fazer o mundo parar. Sei que ela está me dizendo que me ama e que não me culpa por nada, mas também sei que as palavras não podem preencher o vazio que ela sente. — Eu te amo, papai, e sei que o meu pedido de Natal vai ser ouvido pelo Papai Noel. Ele me entregará meu presente e, assim, nossa família será feliz e ficará completa outra vez. — Ela sorri, os olhos brilhando de esperança, e isso me toca profundamente. — Pedido de Natal? — pergunto, curioso, mas tentando descontrair. — Hum... Interessante. O que você aprontou dessa vez, mocinha? — Nada, papai. Eu só pedi ao Papai Noel o que faz falta para nós dois. — Ela fala com um sorriso tímido enquanto tenta se desvencilhar das minhas cócegas. — O que seria? — pergunto, parando com a brincadeira e esperando uma resposta. — Uma nova mamãe para mim e um novo amor para você. — Aurora diz com sinceridade, os olhos brilhando de esperança. Pigarreio, sentindo a surpresa e uma leve vergonha. Aurora realmente não tem filtro. Conheci várias mulheres desde a morte de Mariana, mas nenhuma tocou meu coração como ela fez. E a ideia de simplesmente encontrar uma namorada para mim, para “substituir” Mariana, não parece certa. Mas, como todo pai, quero fazer minha filha feliz. — Querida, eu sei que você sente falta de uma mãe, e eu também sinto falta de ter alguém especial em minha vida. Mas precisamos ter paciência. O que importa é que somos uma família: você e eu. Sempre estarei aqui para cuidar de você e fazer o meu melhor como pai. Aurora sorri, compreendendo minhas palavras. Ela sabe que o mais importante é o amor que compartilhamos. Acredita que, um dia, seu pedido pode ser atendido, mas também entende que a vida é imprevisível. Depois de um café da manhã tranquilo, me preparo para sair. Aurora está cheia de pensamentos sobre o que pedirá ao Papai Noel, mas eu estou distraído, com a mente, nos rumos que minha vida pode tomar, e na viagem que precisarei fazer até Houston. Meus cavalos estão precisando de um complemento especial, e aqui, no Texas, não tem disponível. Minutos depois, me despeço de Aurora, e sigo para a viagem que mudaria a minha vida. 🎁 Já era madrugada quando retornava para casa com os complementos na caminhonete, mas em um trecho da viagem, sinto uma estranha sensação de que algo está prestes a acontecer. A estrada à minha frente parece ainda mais vazia do que de costume, e o silêncio me envolve. É quando a vejo. Uma figura caída na estrada, logo à frente. Uma mulher. O vento levanta levemente seus cabelos, e sua silhueta se destaca contra o céu claro. Paro o carro com pressa, meu coração dispara. O que está acontecendo aqui? Quem é ela? E, no fundo, uma sensação incômoda começa a crescer dentro de mim. Como se, de algum modo, tudo estivesse se encaminhando para um momento que não posso mais evitar.Clarice O vento tinha um cheiro diferente ali — uma mistura de terra úmida, capim fresco e algo mais profundo, quase indizível, que se infiltrava em mim sem pedir licença. Cada inspiração parecia desfazer, pouco a pouco, os nós que eu carregava no peito havia tanto tempo. Era como se aquele ar tocasse feridas antigas e, ao mesmo tempo, prometesse cura. Meu coração batia num ritmo estranho, entre o medo e o alívio, entre o desejo de fugir e a vontade silenciosa de ficar. Talvez fosse liberdade… ou talvez fosse o instante exato em que percebi que minha vida estava mudando, mesmo sem minha permissão. Um caminho que eu não planejei, não pedi, mas que agora me chamava com uma força suave e inevitável — e, pela primeira vez, eu não quis resistir. John caminhava alguns passos à frente, a mão firme envolvendo a de Aurora, enquanto ela saltitava, incapaz de conter a própria alegria. Eu os seguia em silêncio, mas por dentro tudo em mim estava em movimento. Havia algo naquela cena que apertava
ClariceA primeira claridade da manhã entra pelas frestas da janela, desenhando listras douradas sobre o quarto de madeira. Pelo cheiro no ar — café fresco, pão assado, algo levemente adocicado — eu percebo que não estou sonhando. Estou realmente longe de Houston. Longe dele. Longe de tudo que destruiu a minha vida.Tento me sentar devagar. O corpo ainda dói, mas não é nada comparado ao que já suportei. Respiro fundo. Pela primeira vez em muito tempo, sinto... silêncio. Não aquele silêncio tenso que antecede uma tempestade, mas um silêncio real, quase acolhedor.Levanto com cuidado e percebo que minha roupa havia sido trocada por uma camisa de algodão e um short de moletom limpo. Talvez Lila, a nana que John mencionou, tenha sido responsável. Ou talvez ele mesmo. Não sei. Mas, pela primeira vez em anos, alguém cuidou de mim sem querer algo em troca.A porta se abre devagar.— Bom dia, Clarice. — A voz calma de Lila me alcança antes mesmo que eu a veja. — Consegue se levantar?Assinto.
John — Dia seguinte O sol já começava a aquecer a cozinha quando me sentei à mesa com minha xícara de café. Aurora, como sempre, já estava lá, balançando as pernas no ar enquanto devorava um pedaço de bolo de milho que Lila havia preparado. Observei minha filha por um instante, com aquele brilho curioso nos olhos, e soube que ela estava cheia de perguntas. — Então, mocinha, o que achou da nossa nova hóspede? — perguntei, tentando disfarçar a curiosidade com um tom despreocupado. Aurora franziu o nariz e apoiou o queixo nas mãos. — Ela parece legal. Mas dormiu muito! Achei que nunca mais ia acordar. Soltei uma risada baixa e tomei um gole do café. — Bom, ela precisava descansar. Teve uma viagem difícil. Aurora estreitou os olhos, pensativa. — Até parece a Bela Adormecida. Ela fugiu de um dragão? Sorri diante da imaginação fértil da minha filha. — Humm… algo assim. — E você é o cavaleiro que salvou a princesa? — ela perguntou, arregalando os olhos. Dei uma risada e balancei
ClariceO céu está limpo e estrelado, mas a estrada parece interminável. O cansaço e a dor que irradiam pelo meu corpo começam a me consumir, até que tudo fica turvo. Meus pés estão descalços, e o terreno pedregoso e árido faz, a cada passo, uma ferida ainda mais profunda, mas eu não tenho escolha. Eu não posso voltar. Não posso mais olhar para trás.É então que, em meio à escuridão, vejo uma luz à distância. Não sei se é uma ilusão provocada pela minha exaustão ou se realmente alguém está se aproximando, mas, pela primeira vez em muito tempo, sinto uma fagulha de esperança. A luz se aproxima rapidamente e, antes que eu possa me mover, uma voz grave e firme chama:— Ei, moça! Está tudo bem por aí?Ainda tonta e sem forças, tento responder, mas minha voz falha. As palavras não saem. Só consigo mexer os lábios, e a escuridão me consome por completo.Quando acordo, estou em um ambiente diferente, acolhedor e cheiroso, como se fosse uma casa no campo. Olho ao redor e vejo uma luz suave il
Longe DaliHoustonClarice MadisonHoje seria o dia mais importante da minha vida. Descobri que estou grávida há oito semanas. Enfim, estava prestes a realizar o meu maior desejo: ser mãe. Mas, por causa de um ato monstruoso causado por alguém que, diante de Deus, jurou me amar, esse sonho não acontecerá nunca mais.Richard e eu nos conhecemos no ginásio. Namoramos por algum tempo, mas nos afastamos durante o período universitário. Ele foi estudar Medicina em Harvard, e eu, Veterinária, em Oxford. Nossos horários nunca coincidiam, e por isso nos afastamos por longos quatro anos. Mas, assim que nos formamos, para minha desgraça, nossos destinos se cruzaram novamente. E, por culpa dele, hoje me encontro nesta cama de hospital, após sofrer um aborto causado por um espancamento feito justamente pelo homem que me jurou amor eterno no altar, diante de Deus e dos nossos familiares.Eu não sabia que estava grávida; só descobri ao chegar ao hospital, após um dos meus vizinhos chamar a polícia
Glen Rose | TexasJohn CullimanÉ mais um dia ensolarado em Glen Rose, uma cidade pacata no norte do Texas, onde tudo parece seguir a mesma rotina de sempre. Mas algo hoje está diferente, embora eu ainda não saiba o quê. Talvez seja a proximidade do Natal, ou talvez o fato de que Aurora, minha filha, tenha feito um pedido muito especial ao Papai Noel. Falta pouco mais de um mês para a noite mais esperada do ano, e eu sei que ela acredita, com toda a força de seu coração, que seu desejo será atendido.— Bom dia, papai! — Aurora se aproxima de mim com um sorriso tímido enquanto termino de calçar minhas botinas para começar o trabalho no campo. Ela me dá um beijo carinhoso no rosto, como faz todas as manhãs.— Bom dia, borboleta! Dormiu bem? — pergunto, tentando arrancar uma risada dela, como sempre.Mas, para minha surpresa, algo não está certo. Sua alegria usual não está ali. Posso sentir que ela não está tão radiante como de costume.— Sim, mas poderia ter sido melhor. — Ela dá de omb
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