Mundo ficciónIniciar sesión
Glen Rose | Texas
John Culliman É mais um dia ensolarado em Glen Rose, uma cidade pacata no norte do Texas, onde tudo parece seguir a mesma rotina de sempre. Mas algo hoje está diferente, embora eu ainda não saiba o quê. Talvez seja a proximidade do Natal, ou talvez o fato de que Aurora, minha filha, tenha feito um pedido muito especial ao Papai Noel. Falta pouco mais de um mês para a noite mais esperada do ano, e eu sei que ela acredita, com toda a força de seu coração, que seu desejo será atendido. — Bom dia, papai! — Aurora se aproxima de mim com um sorriso tímido enquanto termino de calçar minhas botinas para começar o trabalho no campo. Ela me dá um beijo carinhoso no rosto, como faz todas as manhãs. — Bom dia, borboleta! Dormiu bem? — pergunto, tentando arrancar uma risada dela, como sempre. Mas, para minha surpresa, algo não está certo. Sua alegria usual não está ali. Posso sentir que ela não está tão radiante como de costume. — Sim, mas poderia ter sido melhor. — Ela dá de ombros, com um ar sério, e se senta à mesa, começando a tomar seu café da manhã. — Melhor? — Franzo o cenho. — Melhor como? — Tento entender o que está acontecendo, esticando a conversa. — Se eu tivesse uma mamãe, tudo seria melhor. — Aurora suspira profundamente e observa, com olhos cansados, as gotas de mel caindo lentamente sobre o waffle quente que sua nana, Lila, preparou para ela. Aquelas palavras me cortam o coração. Como posso explicar a dor de perder a mãe dela para uma criança tão pequena? Mariana, minha esposa, faleceu quando Aurora ainda era um bebê de três meses, e, desde então, minha filha só conheceu sua mãe através de fotos e sonhos. Ela é tão curiosa, tão cheia de vida, e esse vazio sempre a incomodou. E me incomoda também. — Mas você tem uma mamãe linda por sinal. Olhe ali na foto. — Aponto para o porta-retrato com a imagem de Mariana sobre o móvel da sala de jantar, tentando dar uma explicação simples. Aurora suspira mais uma vez, como se minhas palavras não fossem suficientes. — Eu sei, papai, mas falo de uma mamãe de carne e osso. É difícil conversar com anjos. Mamãe não aparece mais para mim desde que completei sete anos e só a vejo em sonhos. Isso é tão ruim. — Sua voz se quebra no final, e não consigo evitar sentir a dor que ela carrega. Me aproximo dela e, com o coração apertado, seguro sua mão. É difícil para mim também, mas minha dor nunca pode ser maior do que a dela. Preciso ser forte por nós dois. — Sabe, pequena, eu sei que nem sempre as coisas serão fáceis, mas sempre estarei aqui com você. E tenho certeza de que sua mãe, de alguma maneira, também estará. — Tento suavizar sua tristeza com palavras doces e reconfortantes. Aurora se solta da cadeira e, sem hesitar, se j**a nos meus braços. Seus pequenos braços me abraçam com força, como se, naquele gesto, pudesse fazer o mundo parar. Sei que ela está me dizendo que me ama e que não me culpa por nada, mas também sei que as palavras não podem preencher o vazio que ela sente. — Eu te amo, papai, e sei que o meu pedido de Natal vai ser ouvido pelo Papai Noel. Ele me entregará meu presente e, assim, nossa família será feliz e ficará completa outra vez. — Ela sorri, os olhos brilhando de esperança, e isso me toca profundamente. — Pedido de Natal? — pergunto, curioso, mas tentando descontrair. — Hum... Interessante. O que você aprontou dessa vez, mocinha? — Nada, papai. Eu só pedi ao Papai Noel o que faz falta para nós dois. — Ela fala com um sorriso tímido enquanto tenta se desvencilhar das minhas cócegas. — O que seria? — pergunto, parando com a brincadeira e esperando uma resposta. — Uma nova mamãe para mim e um novo amor para você. — Aurora diz com sinceridade, os olhos brilhando de esperança. Pigarreio, sentindo a surpresa e uma leve vergonha. Aurora realmente não tem filtro. Conheci várias mulheres desde a morte de Mariana, mas nenhuma tocou meu coração como ela fez. E a ideia de simplesmente encontrar uma namorada para mim, para “substituir” Mariana, não parece certa. Mas, como todo pai, quero fazer minha filha feliz. — Querida, eu sei que você sente falta de uma mãe, e eu também sinto falta de ter alguém especial em minha vida. Mas precisamos ter paciência. O que importa é que somos uma família: você e eu. Sempre estarei aqui para cuidar de você e fazer o meu melhor como pai. Aurora sorri, compreendendo minhas palavras. Ela sabe que o mais importante é o amor que compartilhamos. Acredita que, um dia, seu pedido pode ser atendido, mas também entende que a vida é imprevisível. Depois de um café da manhã tranquilo, me preparo para sair. Aurora está cheia de pensamentos sobre o que pedirá ao Papai Noel, mas eu estou distraído, com a mente, nos rumos que minha vida pode tomar, e na viagem que precisarei fazer até Houston. Meus cavalos estão precisando de um complemento especial, e aqui, no Texas, não tem disponível. Minutos depois, me despeço de Aurora, e sigo para a viagem que mudaria a minha vida. 🎁 Já era madrugada quando retornava para casa com os complementos na caminhonete, mas em um trecho da viagem, sinto uma estranha sensação de que algo está prestes a acontecer. A estrada à minha frente parece ainda mais vazia do que de costume, e o silêncio me envolve. É quando a vejo. Uma figura caída na estrada, logo à frente. Uma mulher. O vento levanta levemente seus cabelos, e sua silhueta se destaca contra o céu claro. Paro o carro com pressa, meu coração dispara. O que está acontecendo aqui? Quem é ela? E, no fundo, uma sensação incômoda começa a crescer dentro de mim. Como se, de algum modo, tudo estivesse se encaminhando para um momento que não posso mais evitar.






