4. Um Novo Começo

John — Dia seguinte

O sol já começava a aquecer a cozinha quando me sentei à mesa com minha xícara de café. Aurora, como sempre, já estava lá, balançando as pernas no ar enquanto devorava um pedaço de bolo de milho que Lila havia preparado. Observei minha filha por um instante, com aquele brilho curioso nos olhos, e soube que ela estava cheia de perguntas.

— Então, mocinha, o que achou da nossa nova hóspede? — perguntei, tentando disfarçar a curiosidade com um tom despreocupado.

Aurora franziu o nariz e apoiou o queixo nas mãos.

— Ela parece legal. Mas dormiu muito! Achei que nunca mais ia acordar.

Soltei uma risada baixa e tomei um gole do café.

— Bom, ela precisava descansar. Teve uma viagem difícil.

Aurora estreitou os olhos, pensativa.

— Até parece a Bela Adormecida. Ela fugiu de um dragão?

Sorri diante da imaginação fértil da minha filha.

— Humm… algo assim.

— E você é o cavaleiro que salvou a princesa? — ela perguntou, arregalando os olhos.

Dei uma risada e balancei a cabeça.

— Eu não diria isso. Acho que sou só um fazendeiro que estava no lugar certo, na hora certa.

Aurora cruzou os braços, claramente insatisfeita com a resposta.

— Isso não é muito emocionante… Se fosse na minha história, você teria derrotado o dragão, resgatado a princesa e depois cavalgado em um cavalo mágico!

Ri novamente e mexi no café, observando o vapor subir.

— Bom, talvez essa história ainda esteja sendo escrita.

Aurora ficou em silêncio por um instante, absorvendo minhas palavras. Então, um brilho travesso surgiu em seus olhos.

— Se ela vai morar aqui, eu posso ensinar tudo sobre os cavalos! Será que ela sabe que a Estrela adora cenouras e que o Trovão não gosta de cócegas na barriga?

— Acho que ela tem muito a aprender — concordei.

Ela bateu as mãos na mesa, animada.

— Então eu vou ser a professora dela!

Balancei a cabeça com um sorriso.

— Acho que Clarice vai gostar disso.

— Hmm... Clarice! — ela fala serelepe.

Aurora pegou outro pedaço de bolo e, depois de mastigar um pouco, me olhou com mais seriedade.

— Papai… você acha que ela vai ficar?

Olhei para minha filha por um momento, depois voltei os olhos para a janela. O sol dourava os campos, e o vento fazia as folhas das árvores dançarem suavemente. Inspirei fundo antes de responder.

— Acho que sim, Aurora. Acho que sim.

Aurora sorriu, satisfeita com a minha resposta, e voltou a devorar o bolo. Enquanto eu observava minha filha, percebi o quanto ela já estava se apegando à ideia de ter Clarice por perto. E, para ser sincero, eu também me pegava pensando nisso mais do que deveria.

Ainda era cedo para dizer qualquer coisa, mas algo me dizia que aquela mulher não tinha aparecido na minha vida por acaso. O destino tinha um jeito curioso de agir.

— Ela já acordou? — Aurora perguntou, lambendo os dedos açucarados.

— Acho que sim. Vou ver como ela está.

Levantei-me e passei a mão pelos cabelos antes de sair da cozinha. Caminhei pelo corredor de madeira, ouvindo o som suave dos meus próprios passos. Quando cheguei à porta do quarto onde Clarice descansava, bati levemente.

— Clarice?

Silêncio. Esperei um instante antes de abrir a porta devagar.

Ela estava acordada, sentada na beirada da cama, os cabelos escuros caindo sobre os ombros. Seus olhos, ainda um pouco cansados, se ergueram para me encarar.

— Bom dia — falei, apoiando-me no batente da porta.

— Bom dia — ela respondeu, a voz suave e rouca, como se ainda estivesse se acostumando ao ambiente.

— Como está se sentindo?

Ela hesitou por um momento antes de responder.

— Melhor. Bem melhor do que ontem.

Assenti, satisfeito.

— Fico feliz em ouvir isso. Aurora já está animada com a sua presença. Está determinada a te ensinar tudo sobre os cavalos da fazenda.

Um pequeno sorriso surgiu no canto dos lábios dela, e algo dentro de mim se aqueceu ao ver aquilo.

— Parece que tenho muito trabalho pela frente, então.

Ri baixinho.

— Isso eu posso garantir.

Por um momento, ficamos em silêncio. Ela olhou para as próprias mãos, como se estivesse escolhendo as palavras antes de falar.

— John… Eu realmente agradeço o que está fazendo por mim. Sei que não tinha obrigação nenhuma de me ajudar.

Cruzei os braços e a observei por um instante.

— Ninguém chega até aqui por acaso, Clarice. Se a vida te trouxe até a Fazenda Butterfly, talvez seja porque você precisava de um recomeço.

Ela me encarou, os olhos brilhando com uma mistura de incerteza e algo que parecia esperança.

— Um recomeço… — repetiu, como se estivesse testando o peso daquela palavra.

— Isso mesmo. Agora, por que não vem tomar café? Aurora vai ficar decepcionada se não te vir na mesa.

Clarice soltou um suspiro leve e assentiu.

— Eu adoraria.

Sorri e dei um passo para trás, esperando por ela. Enquanto caminhávamos juntos pelo corredor, tive a estranha sensação de que, de alguma forma, a presença dela aqui era o começo de algo que eu ainda não conseguia entender. Mas sabia que mudaria nossas vidas para sempre.

Enquanto caminhávamos juntos de volta para a cozinha, eu sentia a presença de Clarice como uma onda silenciosa que mudava a atmosfera ao meu redor. Não era apenas a novidade de tê-la ali, mas algo mais profundo, algo que eu não conseguia nomear.

Ela movia-se com cautela, como se ainda estivesse se acostumando ao espaço. Seus olhos percorriam os detalhes da casa, registrando cada pequeno aspecto da fazenda como se quisesse absorver tudo. Quando chegamos à cozinha, Aurora imediatamente saltou da cadeira e correu para ela.

— Você demorou! — Aurora exclamou, as mãos nos quadris como uma pequena professora esperando um aluno atrasado. — O bolo de milho ainda está quente, mas se você não comer logo, não vai sobrar nada!

Clarice sorriu, genuinamente encantada com a energia da minha filha. Eu me peguei observando aquele sorriso por mais tempo do que deveria.

— Então, acho que preciso garantir a minha parte antes que acabe — ela respondeu, sentando-se ao lado de Aurora.

Lila serviu-lhe uma xícara de café sem dizer nada, mas eu conhecia aquele olhar avaliador. Lila tinha um faro para pressentir situações complicadas, e eu sabia que, mais tarde, teria que responder algumas perguntas. Mas, por enquanto, apenas aproveitei o momento.

Enquanto tomávamos café, observei Clarice se soltar pouco a pouco. Aurora falava sem parar sobre os cavalos, sobre a fazenda e sobre como ela poderia ensinar Clarice a montar. A cada resposta cuidadosa de Clarice, eu via a muralha invisível que ela carregava se desfazendo um pouco.

Eu não sabia qual era a história dela, nem o que realmente a tinha trazido para cá, mas sentia que o peso que ela carregava não era pequeno. Seu olhar, por mais que tentasse esconder, ainda trazia sombras do passado. Algo dentro de mim se remexeu com a vontade de afastar aquela escuridão. Talvez fosse coisa da minha cabeça e eu estivesse apenas tentando encaixar Clarice em uma história que ainda não existia. Mas, por alguma razão, sua presença na minha fazenda não parecia um acaso. Parecia um começo.

E começos são sempre perigosos. Porque significam que algo, em algum momento, vai mudar.

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