Na hora do almoço, decidiram sair pra buscar materiais. Pegaram o carro de Rafael — um fusca azul claro que fazia mais barulho que uma bateria de escola de samba, desafinado ainda por cima. A cada lombada, o carro protestava com um gemido metálico que parecia dizer: “me aposenta, por favor”.
— Você tem certeza que esse fusca não vai se desintegrar no meio do caminho? — Valentina perguntou, segurando firme no banco como se estivesse numa montanha-russa de parque duvidoso.
— Confia, esse aqui é guerreiro. Já sobreviveu a três mudanças de marcha errada, um temporal com granizo e minha primeira tentativa de dirigir com sandália — respondeu Rafael, com orgulho.
— Uau, então ele é praticamente um veterano de guerra.
No caminho, pararam num semáforo e Rafael olhou pra Valentina, o barulho do motor roncando como um dragão asmático.
— Você acha que eu tô ficando louco?
— Tô te achando cada dia mais incrível — ela respondeu, sorrindo com aquele jeito que deixava Rafael com vontade de escrever p