O domingo amanheceu preguiçoso, como se soubesse que depois da tempestade emocional da noite anterior, o mundo precisava desacelerar. Na sala pequena e aconchegante de Valentina, o sol invadia pelas frestas da cortina e desenhava no chão uma paz que só se encontra depois de um vendaval — e de uma noite cheia de revelações, risadas e uma família completamente insana.
Valentina continuava aninhada no peito de Rafael, como se aquele lugar já fosse casa. Ele fazia carinho em seu cabelo, desenhando trilhas de afeto com os dedos, como se cada fio fosse um segredo a ser desvendado. A respiração dos dois se encontrava no meio do silêncio, numa sinfonia leve que dizia mais do que qualquer palavra.
— A gente devia anotar tudo isso — murmurou ela, com a voz sonolenta.
— Tudo o quê?
— Esses momentos bobos. Tipo sua cara de pânico quando minha tia começou a ler o futuro nas bolachas Trakinas.
— Aquilo foi um susto real. A bolacha disse que eu ia mudar de vida. E olha só onde acordei hoje.
Ela riu.