Na volta pra casa, Valentina estava inquieta. O sorriso que sustentou durante o coquetel tinha sumido no retrovisor. O encontro com Bruno mexera mais do que ela queria admitir. Não por ainda haver sentimento, mas porque lembrar da antiga versão dela — a que aceitava migalhas, a que silenciava pra não incomodar — reacendia uma raiva silenciosa. Uma ferida costurada às pressas que ainda coçava por dentro.
Quando abriu a porta do apartamento, o cheiro do incenso de lavanda a envolveu. Rafael estava sentado no sofá, enrolado num cobertor com Bruce no colo e Conde de Meow esparramado na almofada. Um documentário sobre ovnis passava na TV, mas ele desviou o olhar assim que a viu.
— Oi, meu amor! Como foi o evento?
Valentina chutou os sapatos pro canto, largou a bolsa na poltrona e afundou ao lado dele no sofá. O corpo cedeu, mas a mente continuava acelerada.
— Foi bom... até não ser mais. Encontrei o Bruno.
Rafael pausou o documentário com um movimento seco, quase automático.
— Qual Bruno?