Asher

Essa é uma péssima ideia.

Tê-la aqui. Tão perto.

Essa mulher é toda a complicação que eu não preciso na minha vida.

Irritá-la nos treinos e em algumas aulas é bem diferente de morar com ela.

Devia ser pecado uma mulher ser tão linda e tão difícil ao mesmo tempo.

O pior é que ela sabe o poder que tem sobre os homens. Elara não é do tipo que aceita ser capacho — ela faz você de capacho e ainda ri disso. E, talvez eu seja louco, mas ser capacho dessa mulher deve ser a oitava maravilha do mundo.

Observo enquanto ela acompanha Max escada acima. Como se sentisse que estou olhando, ela se vira com um olhar mortal como quem pergunta: “Tá gostando da vista?”

Só sorrio em negação, mas ela sabe que eu estava olhando.

Porra, só um louco pra não olhar.

Passo pela bancada para finalizar meu sanduíche, mas decido que também preciso de uma cerveja. Vou até a geladeira e pego uma Bud Light do Max. Vindo de um cara como o Max, gostar dessa cerveja é a cara dele. Como que um homem pode gostar de uma versão mais leve da Budweiser que, por si só, já é uma cerveja leve?

Como eu disse: vindo daquele cara eu espero qualquer coisa. Literalmente.

Escuto passos na escada mostrando que o tour pela casa continua. Em poucos segundos os vejo entrar na cozinha, com ela analisando tudo ao redor. Como se a casa não estivesse à altura dela.

Talvez não estivesse mesmo.

— Temos a parte dos fundos também, onde temos a churrasqueira, plantas e aquela máquina… — ele diz como se tivesse esquecido o nome. — Como se chama mesmo, Asher? — pergunta irônico.

— Máquina de lavar roupas, palhaço — respondo entre dentes.

— Não peguei a referência — ela diz, olhando de mim para Max, confusa.

— O nosso querido amigo Asher aqui — Max diz, dando a volta no balcão e colocando as mãos nos meus ombros — tem a excelente qualidade de lavar roupas quando está estressado. O que acontece com frequência durante a temporada. Ele sai catando tudo pela frente e lavando. Ele fica horas lá, lavando por ordem de cor, tipo e tecido. Praticamente uma mãe. — ele diz rindo.

— Pelo menos um de nós aqui tem que ser organizado. Ou você mostrou pra ela o chiqueiro do seu quarto? — digo com um sorriso.

— Ela não quis conhecer meu quarto. Ainda. — Ele pisca para ela, que imediatamente revira os olhos.

— O papo tá ótimo, a casa é incrível, mas trocar um hospício por outro não está nos meus planos. Então eu já vou — ela diz, virando para sair.

Eu deveria estar contente.

Mas alguma coisa em mim não gosta do fato de ela estar indo.

— Espera. Como assim “um hospício por outro”? — Max pergunta, com a cara de fofoqueiro mais porca que ele tem.

Ela revira os olhos, claramente se perguntando por que vai se dar ao trabalho de explicar… mas explica mesmo assim.

— No meu condomínio tem um senhor que está complicando a minha vida. Ele fica estacionando o carro atrás do meu. Hoje eu cheguei vinte e cinco minutos atrasada. Você tem noção do que é isso?

— Levando em consideração a reputação da sua treinadora: um grande discurso de decepção e bla bla bla — diz Max com tédio, porque também passamos por isso às vezes. É uma droga. Você se sente o pior ser humano da Terra, como se todo o seu esforço pelo esporte não fosse nada.

O olhar de Elara mostra que foi exatamente assim que ela se sentiu.

Ano passado não foi um campeonato grandioso pra eles. Ninguém fala muito sobre o que aconteceu, mas ouvi dizer que, mesmo tentando disfarçar, ela estava de ressaca e errou o salto, causando uma lesão feia no parceiro — e nela mesma. Quase não conseguiram se classificar para esse ano e a treinadora quase tirou ela do programa. Ninguém soube o que de fato aconteceu. O assunto morreu quando saiu a lista do regional e eles estavam lá. Em último. Mas estavam.

— Pois é — continua Elara. — A minha reputação como atleta não anda das melhores. Não preciso de mais motivos para isso piorar. Mas aquele velho desgraçado... — ela pausa, respirando fundo — Bom, aquele senhor não ajuda.

— Mas por que ele tá fazendo isso? Você furou o pneu dele ou algo assim? — pergunto com interesse.

— Eu nunca vou entrar no seu quarto, esquece! — ela rebate. — Agora os meus termos: vocês não entram no meu quarto sem autorização, festas precisam ser avisadas com 24 horas de antecedência pra eu sumir, e, por favor, fique longe do meu cesto de roupas sujas. — Essa última parte ela diz olhando diretamente pra mim.

— E por que você não faz uma reclamação direta com o síndico? Assim já resolve tudo de uma vez — digo, tentando dar uma solução.

— Você acha que eu não pensei nisso, gênio? — ela diz com ironia. — Mas acontece que a nossa síndica se mudou. E adivinha quem é o novo síndico? Ele. — ela diz, derrotada.

— E você quer mais motivos pra morar aqui? — Max pergunta, como se a solução fosse óbvia. E meio que é. Só vai ser um pesadelo pra mim.

— Como assim? — ela pergunta.

— Aqui você terá garagem disponível sem problemas pra sair, um quarto com banheiro privativo, casa espaçosa, um cara que lava suas roupas de graça e mantém a casa arrumada e, claro, dois caras bonitões — ele diz, por fim dando uma piscadinha.

Ela fica pensativa, analisando todas as opções que tem — que não são muitas. Dá pra ver as engrenagens no cérebro dela listando prós e contras. Por fim, ela dá de ombros, rendida, sabendo que essa é a única solução no momento.

— Quais são os termos? — ela pergunta, com um sorriso murcho.

— Contrato até o final do ano letivo, com possibilidade de renovação para o próximo. São US$850 mensais, com usufruto de tudo na casa. Pode mudar hoje mesmo se quiser. Festas devem ser avisadas com no mínimo 4 horas de antecedência e a porta do meu quarto está sempre aberta — ele finaliza, com um sorriso de lado.

— Eu nunca vou entrar no seu quarto. Esquece. Agora os meus termos: vocês não podem entrar no meu quarto em hipótese alguma sem a minha autorização. Festas devem ser avisadas com no mínimo 24 horas de antecedência pra eu sumir. E, por favor, fique longe do meu cesto de roupas sujas — essa última parte ela diz olhando diretamente pra mim.

Eu só dou uma risada anasalada. Esse ano vai ser bem difícil.

— Negócio fechado? — Max estende a mão pra ela.

Ela olha, dando uma última chance pro lado racional dela vencer e fazer ela desistir dessa ideia maluca. Mas não vence.

— Negócio fechado. Amanhã de manhã eu vou resolver a papelada da rescisão com o condomínio e à tarde ficarei livre. Posso fazer a mudança após o almoço, ou vocês têm compromisso?

— Por mim tá de boa. E pra você, Asher?

— Tranquilo. Vou sair amanhã.

— Vou deixar minha chave embaixo do vaso ao lado da porta caso precise sair antes de você chegar. Assim fica mais fácil pra você — Max diz, acompanhando ela até a porta.

— Certo. Então… vejo vocês amanhã.

Acho que meu querido amigo acabou de assinar um contrato com a insanidade.

Só não sei se será a minha ou a dela.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App