Passara uma hora desde que eu voltara para o centro de treinamento, mas minha cabeça ainda estava naquele quarto. A cena voltava em loop, irritante e perfeita, queimando atrás das pálpebras. Eu não conseguia me concentrar em nada. Meu corpo denunciava isso mais do que eu gostaria — uma persistente meia-bomba e um incômodo crescente que só piorava.
Vejo o disco emborrachado vindo direto na minha direção e, claro, minha reação foi lenta demais. Ele acertou em cheio a minha coxa direita. Tentei me desvencilhar e perdi o equilíbrio por um segundo, mas graças aos meus três longos e obrigados anos de patinação artística — uma das vontades da minha irmãzinha — não fui parar de bunda no gelo. Às vezes, pagar mico no passado salva a dignidade no presente.
— DeLuca! Que porra foi essa? — o treinador rugiu do outro lado do acrílico. — Você não tá com a cabeça no gelo!
— Foi mal, treinador — respondi, arfando enquanto a coxa ardia. — Eu só tô… distraído.
— Isso aí eu já percebi. Aliás, todo mundo