Mundo ficciónIniciar sesiónEla me odeia.
Elara Quinn não consegue, nem de longe, disfarçar a raiva que sente por mim. O que é fascinante, considerando que praticamente todas as garotas desta universidade jogam aos meus pés. Acho que é por isso que gosto tanto de implicar com ela — é divertido.
— Ela te odeia mesmo, né? — diz Keller, terminando de amarrar os patins.
— Que nada, aquela garota me ama — respondo, colocando o capacete.
— Aham, e eu sou o Papa! Vai chegar o dia em que ela vai passar por cima de você com aquele Mini Cooper, e eu vou assistir de camarote.
— Nesse dia, meu amigo, eu morrerei feliz — digo rindo.
Olho para os bancos e vejo o amigo da Quinn ainda sentado, nos encarando. Quando percebe, ele se levanta e sai.
— Aquele cara tem uma queda por você — comenta Cole Butler, nosso defensor.
— Cole, a pergunta é: quem não tem? Olha pra esse cara. — diz Max O’Connor, meu companheiro de ataque e república.
— Você é o maior puxa-saco, O’Connor — provoca Keller, rindo.
O restante do pessoal chega ao centro do rink e começamos o alongamento. Passam-se uns cinco minutos até que a porta central se abre e o nosso treinador, Mike Richter, entra pisando firme.
— Ei, bando de maricas! Venham aqui! — ele grita, com uma cara de poucos amigos.
Vamos até ele. No curto caminho, tento imaginar o que pode tê-lo deixado tão bravo, mas nada me vem à cabeça. Seja o que for... espero que não tenha sido comigo.
— Eu posso saber qual dos imbecis teve a brilhante ideia de dar uma rapidinha na porra da minha sala?! — berra o treinador, os olhos quase soltando faísca.
Olho para meus colegas — todos de cabeça baixa. Procuro uma pista em Max e Keller, mas ambos fazem que não com a cabeça.
— Ninguém vai falar nada? Vou precisar punir todo mundo? — ele grita ainda mais.
— Treinador, como capitão, devo perguntar... como o senhor sabe que foi um de nós? — pergunto com cautela. A chance de ele jogar um disco na minha cara é bem real.
— Porque a linda jovem caloura que cometeu esse ato de libertinagem na minha sala contou pra Alana Thompson. Sabe quem é Alana? A PORRA DA FILHA DO REITOR! — ele rosna. — E ela, é claro, contou pro pai, que puxou as câmeras da sala e viu o lindo filminho pornô de vocês.
— Treinador... se tem vídeo, por que o senhor tá perguntando? É só olhar no vídeo — arrisca Cole, completamente sem noção do perigo.
— Porque, como todo filme pornô de quinta, o infeliz ficou num ângulo que não dá pra ver o rosto! Por isso estou dando a chance de o culpado se entregar!
A sala fica em silêncio mortal. Vários olhares se cruzam — alguns de desespero, outros de medo —, mas um em especial me chama atenção. August Linden, nosso recém-chegado ala esquerda. O olhar dele transborda culpa.
Claro. Tinha que ser a porra de um calouro burro. E conhecendo o treinador Richter, no segundo em que esse idiota abrir a boca, vai ser expulso do time sem chances de redenção.
Ah, vou fazer algo extremamente burro agora... mas é por um bem maior.
— Treinador — o chamo, cabeça baixa. — Fui eu.
— Pra minha sala. O resto, pro gelo. — Ele olha para o assistente. — Norman, treine as jogadas ensaiadas e coloquem esses idiotas pra suar. Já volto.
Ele anda em direção à pequena sala ao lado do vestiário masculino, e eu o sigo. Sei que assumir a culpa de algo que não fiz é arriscado — e burro pra caralho —, mas era preciso.
August é um ótimo ala e tem um grande futuro pela frente. Eu não quero ser jogador profissional — ele quer. Por que acabar com a chance do cara se eu posso fazer algo pra ajudar? Além disso, sou capitão. Assumir a responsabilidade é parte do trabalho.
— Muito bem, garoto. Desembucha. Sei que não foi você — diz o treinador, sentando-se e cruzando os braços.
— Fui eu sim. Foi uma decisão idiota e... — começo.
— Pode parar, DeLuca. Você não é idiota nesse nível. Você sabe as consequências de um ato desses, mas os calouros não. Qual deles foi? — pergunta firme.
Percebo que continuar mentindo não vai adiantar.
— Não tenho certeza, mas acho que foi o Linden — digo de uma vez.
— Certo. — Ele respira fundo. — Estou orgulhoso de você, Asher. Fez o que um verdadeiro líder faz. Assumiu a responsabilidade mesmo sabendo das consequências.
— Obrigado, treinador — respondo, com um sorriso aliviado.
— No entanto... — lá se vai meu sorriso — eu preciso da cabeça de alguém pra entregar à reitoria. E como você se acusou na frente de todos... sinto muito, mas vou ter que te entregar.
— Tudo bem. Como o senhor disse, eu sabia das consequências.
— Vou fazer o possível pra aliviar o seu lado, mas não garanto nada. Agora vai pro gelo, preciso fazer uma ligação.
Saio da sala e volto para o gelo. O pessoal está fazendo algumas tacadas quando me junto a eles. Paro ao lado de Max e Keller, já preparado para interrogatório.
— Sério, cara? Na sala do treinador, logo você? Tantas opções... — diz Max, desacreditado.
— Não fui eu, tapado. Eu só assumi a culpa — respondo, dando um tapinha na cabeça dele.
— Você sabe quem foi? — pergunta Keller, abaixando o tom.
— Acho que foi o Linden, mas não tenho certeza. Quando o treinador estava surtando, ele me olhou com a maior cara de culpado da vida.
— E aí você decidiu ser a fada madrinha do cara? — zomba Keller.
— Só quis ajudar. Vocês conhecem o treinador. Ele nunca daria uma segunda chance pra um novato, mesmo sendo bom.
— Isso é verdade. Ele chutaria a bunda do Linden tão forte que a próxima caloura que ele pegasse ia sentir o gosto da sola do coturno dele — diz Max, rindo.
— Enfim... agora é esperar o que o reitor vai fazer. O treinador disse que tentaria aliviar o meu lado, mas não garante nada.
Olho pra frente e vejo Linden vindo na nossa direção. Meus amigos trocam olhares cúmplices e me deixam a sós com ele.
— Obrigado, cara. Nem sei o que dizer — diz ele, envergonhado.
— Não precisa dizer nada. Só não faz mais idiotices nesse nível. A sala do treinador, sério? — digo, e ele ri anasalado.
— Ela “não podia esperar mais.” Palavras dela. — Ele faz aspas com as mãos e continua: — Não vai se repetir. Qualquer coisa que você precisar, é só pedir. Te devo a minha futura carreira.
Dou risada. — Tudo bem. Agora vamos jogar hóquei.
Às nove em ponto, o treinador nos libera. Saio do ginásio com Max e vamos direto pra casa na Porsche dele. Eu nunca vi um cara ostentar tanto. Tudo bem que ele é rico, mas às vezes é demais.
Como ele sempre diz: “Asher, você é um rico com síndrome de pobre.” E, pra falar a verdade... às vezes eu sou mesmo.
Chegamos em casa e eu subo pra tomar um banho antes de comer alguma coisa. Hoje só tenho aula às três da tarde, então ainda tenho tempo.
Depois do banho, desço pra cozinha. Estou montando meu sanduíche quando a campainha toca.
— Max, a porta! — grito, imaginando que seja algum dos amigos gamers dele.
— Não é pra mim! — ele grita do andar de cima.
Estranho. Não estou esperando ninguém.
A campainha toca de novo. Largo o sanduíche pela metade e vou até a porta. Quando abro, me deparo com a visão mais linda e perturbadora da minha vida.
— Oi, linda. Tá fazendo o que aqui?







