Na manhã seguinte, acordei antes do sol. Sentei na beira da cama, segurando meu caderno fechado contra o peito. Podia jurar que ainda sentia o gosto daquele beijo, como uma lembrança boa que não queria ir embora.
Quando finalmente saí do alojamento, June estava sentada num caixote perto da porta, amarrando os cadarços. Ao me ver, ergueu uma sobrancelha e sorriu de um jeito que eu conhecia bem.
— Bom dia — disse ela, com voz inocente demais pra ser verdadeira.
— Bom dia — respondi, tentando manter o tom neutro.
Ela estreitou os olhos, estudando meu rosto como uma investigadora de quinta categoria.
— Você tá diferente — afirmou.
— Eu sempre acordo cedo — desconversei.
— Não é isso — insistiu. — Tá… com cara de quem ganhou flores.
— Eu não ganhei flores — protestei, sentindo minhas bochechas queimarem.
— Então foi outra coisa — disse ela, e arregalou os olhos. — Ah, não. Foi o Callum?
Eu não respondi. Mas meu silêncio foi resposta suficiente.
June bateu as mãos nas pernas, triunfante.
—