O caminhão saiu de Belle Rive no meio da tarde, quando o sol começava a se inclinar, pintando de dourado as fachadas destruídas. Eu sentei na parte de trás, abraçando meu caderno contra o peito, e senti o coração bater num ritmo que não era só tristeza — era também alívio.
June se acomodou ao meu lado, apoiando os cotovelos nos joelhos. Ficamos em silêncio enquanto a estrada se estendia diante de nós, com aquela sequência interminável de árvores retorcidas e postes tombados. A hora de viagem parecia mais curta dessa vez, como se o pior já tivesse ficado lá atrás.
— Sobreviveu — disse June, sem me olhar, num tom que soou quase como uma constatação.
— Sobrevivi — confirmei, baixando os olhos pro caderno.
— E não desabou. Ponto extra — continuou ela, com aquele humor seco que, aos poucos, tinha virado parte dos meus dias.
— Doutrinação motivacional? — provoquei.
— Chamam de coaching, mas prefiro “bom senso misturado com sarcasmo” — respondeu, dando de ombros.
Ri baixinho, e percebi que e