Na manhã seguinte, acordei antes de qualquer movimento. O alojamento estava mergulhado num silêncio quase absoluto, exceto pelo vento que fazia a estrutura de metal estalar de vez em quando. Por um instante, pensei em ficar ali, enrolada no cobertor, fingindo que ainda não era hora de existir. Mas algo em mim já não combinava mais com esse esconderijo.
Sentei na beirada da cama e fiquei alguns segundos olhando June dormir. O rosto dela estava relaxado, sem aquele vinco de preocupação que aparecia sempre que o trabalho apertava. Pensei em tudo que ela carregava e no modo como, apesar de tudo, encontrava espaço pra cuidar dos outros. Inclusive de mim.
Quando saí, o pátio ainda estava vazio. O céu tinha uma cor pálida, entre o cinza e o azul, como se não tivesse decidido o humor do dia. Respirei fundo, sentindo o cheiro de terra úmida e fumaça de lenha que sempre me lembrava de infância.
Deborah surgiu da porta do refeitório, enrolada num xale grosso. Carregava duas canecas de café e par