O céu ainda tingia de dourado as grandes janelas da cobertura quando Victor despertou.
Demorou alguns segundos para se orientar, mas então a viu — Alicia, deitada a seu lado, com os cabelos espalhados sobre o travesseiro como um leque de seda, os lábios entreabertos num suspiro leve, quase infantil. O rosto dela parecia feito de porcelana. Tão plácido, tão sereno, que o fez prender o fôlego.
Ela dormia como se não existisse dor no mundo.
E naquele instante, Victor não quis que existisse.
Seu coração, sempre tão blindado, bateu com um peso diferente no peito. Um peso bom. Um peso que dizia: ela é minha. Mas não no sentido possessivo ao qual ele estava acostumado. Não se tratava de domínio, e sim de desejo de permanência. De proteção. De futuro.
Victor apoiou o cotovelo no colchão e permaneceu ali, apenas olhando. Percorreu com os olhos cada detalhe daquele rosto que ele já conhecia tão bem — a curva suave do nariz, a leve marca de expressão no canto da boca, os cílios escuros que desca