SOMBRAS DE MALTA: O PREÇO DA VINGANÇA Eu não vim a Malta como turista. Vim como caçadora. Meu nome é Isabella Rossi, e há cinco anos perdi tudo quando Lorenzo Borg ordenou o assassinato dos meus pais. Agora, finalmente rastreei esse poderoso empresário até esta ilha mediterrânea de beleza enganosa. Armada apenas com minha determinação e um plano meticuloso, infiltrei-me em seu mundo corporativo. Cada sorriso que ofereço, cada conversa casual, me aproxima da vingança que jurei conquistar. O que eu não esperava era Damien Cassar. Enigmático, perspicaz e perigosamente atraente, ele parece enxergar através das minhas mentiras com uma facilidade perturbadora. Pior ainda, ele desperta em mim sentimentos que ameaçam comprometer tudo pelo que trabalhei. Entre as antigas ruínas de Malta e seu mar azul-turquesa, descubro segredos que abalam as fundações da minha missão. A cada revelação, a linha entre justiça e obsessão se torna mais tênue. Quando finalmente encaro a verdade, preciso fazer uma escolha impossível: concluir minha vingança ou arriscar tudo por uma chance de redenção... e talvez amor. O preço da vingança é alto. Resta saber se estou disposta a pagá-lo com minha própria alma.
Ler mais** Isabella Rossi **
O sol de Malta beijava a pele de Isabella Rossi com uma intensidade quase insolente, um contraste gritante com a frieza que se instalara em seu coração desde a noite em que o mundo dela desabou. As muralhas cor de mel de Valeta erguiam-se imponentes à sua frente, guardiãs de segredos antigos e, agora, do palco de sua meticulosamente planejada vingança. Ela apertou a alça da bolsa de grife, o couro macio um lembrete tátil do luxo que aprendera a usar como armadura e disfarce. Por baixo da fachada de uma executiva ambiciosa, residia uma fúria calculada, alimentada pela perda trágica de seus pais, uma tragédia orquestrada nas entranhas da organização que agora ela se preparava para infiltrar.
A Rossi Enterprises, outrora o legado de sua família, fora engolida pela Phoenix Holdings, o império financeiro comandado por Damien Cassar – o homem que, sem saber, era o epicentro de sua dor e o alvo de sua retribuição. Damien, o CEO enigmático, cujas conexões com a morte de seus pais eram mais do que meras suspeitas para Isabella; eram uma certeza dolorosa que a consumia. Respirou fundo o ar salgado do Mediterrâneo, deixando que a brisa bagunçasse levemente seus cabelos escuros. Malta, um paraíso fiscal, um playground para os ricos e poderosos, e o cenário perfeito para o seu acerto de contas. Ela havia estudado cada detalhe, cada movimento de Cassar, cada vulnerabilidade da Phoenix Holdings. Sua nomeação como Diretora de Finanças não fora um acaso, mas o primeiro passo de uma estratégia complexa, tecida com a precisão de uma predadora.
Ao desembarcar do táxi em frente ao arranha-céu espelhado que sediava a Phoenix Holdings, Isabella sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Não era medo, mas uma antecipação sombria. O porteiro abriu a porta com uma deferência que ela sabia ser reservada ao poder e ao dinheiro. Lá dentro, o lobby era um testemunho da opulência e da influência de Cassar: mármore reluzente, obras de arte contemporânea e um silêncio quase reverente, quebrado apenas pelo clique suave de seus saltos no chão polido.Enquanto se dirigia ao elevador privativo que a levaria ao andar da diretoria, ela sentiu os olhares curiosos. Sabia que sua chegada não passaria despercebida. Uma nova diretora, jovem e desconhecida, no coração de um império tão fechado.
Que eles subestimassem sua capacidade era exatamente o que ela queria. No espelho do elevador, encarou o próprio reflexo. Os olhos, geralmente vibrantes, carregavam uma sombra de determinação implacável. A vingança, ela sabia, era um prato que se come frio. E o dela estava prestes a ser servido, em meio ao luxo e ao perigo do mundo corporativo de Malta, onde o amor e o ódio dançariam uma valsa perigosa e sedutora.
A porta do elevador se abriu diretamente em um andar que exalava poder discreto. Uma assistente executiva, impecavelmente vestida, cumprimentou Isabella com um sorriso profissional, mas com olhos que analisavam cada detalhe. "Senhorita Rossi, bem-vinda à Phoenix Holdings. O Sr. Cassar está aguardando por você em sua sala."
"Eu," confirmou Damien. "Eu tinha dezessete anos, trabalhando como salva-vidas durante o verão. Foi meu primeiro encontro com a família Rossi. Seu pai me agradeceu efusivamente, me convidou para jantar. Foi assim que começou minha conexão com ele."Isabella absorveu a informação, peças do quebra-cabeça finalmente se encaixando. "E depois? Você disse que me observava de longe..."Damien pareceu desconfortável pela primeira vez. "Isso soa pior do que realmente foi. Depois que seus pais morreram, eu me senti... responsável por você, de alguma forma. Culpado. Queria ter certeza de que você estava bem, que tinha o que precisava. Então, ocasionalmente, eu verificava. De longe.""Como um guardião secreto," murmurou Isabella, lembrando-se das palavras do diário."Algo assim," concordou Damien. "E então, anos depois, quando soube que você estava investigando a morte de seus pais, que estava se aproximando perigosamente de Borg... eu decidi intervir. Contratá-la foi uma maneira de mantê-la por
O café Cordina, com sua fachada histórica e ambiente elegante, estava moderadamente cheio naquela manhã. Isabella chegou alguns minutos antes do horário marcado, escolhendo uma mesa discreta no canto, com vista para a praça. Seu coração batia em um ritmo acelerado que ela tentava ignorar, fingindo interesse no cardápio que já conhecia de cor.Damien chegou pontualmente às dez, como sempre. Ele a localizou imediatamente, como se seus olhos soubessem exatamente onde procurar. Estava vestido casualmente – calças escuras, camisa azul clara com as mangas dobradas – uma mudança em relação aos ternos impecáveis que usava como CEO da Phoenix Holdings. Havia algo diferente nele, uma leveza que ela nunca havia notado antes, como se um peso imenso tivesse sido removido de seus ombros."Obrigado por me encontrar," ele disse simplesmente, sentando-se à sua frente.Isabella assentiu, subitamente insegura sobre como começar esta conversa que ela mesma havia solicitado. Tantas perguntas, tantas emoçõ
Os dias que se seguiram à queda de Lorenzo Borg foram um turbilhão de depoimentos, reuniões com advogados e manchetes sensacionalistas. A operação da Interpol, agora conhecida como "Operação Serpente", estava em todos os jornais de Malta e além, revelando camadas e mais camadas de corrupção, lavagem de dinheiro e crimes violentos que se estendiam por décadas.Isabella observava tudo com uma mistura de satisfação e desconforto. A justiça que buscara por tanto tempo estava finalmente sendo feita, mas de uma forma que nunca imaginara. Seu nome aparecia nos jornais, às vezes como vítima, às vezes como heroína, uma narrativa simplificada que não capturava a complexidade de sua jornada.Ela havia se hospedado temporariamente em um hotel discreto em St. Julian's, precisando de distância tanto de seu apartamento em Sliema, associado agora à sua identidade como infiltrada na Phoenix Holdings, quanto da própria empresa, que estava passando por uma reestruturação massiva sob supervisão das autor
Durand seguiu seu olhar, pensativo. "Complicado. Cassar caminhou na linha entre o legal e o ilegal por anos. Ele facilitou operações de Borg, mas também foi instrumental em reunir evidências contra ele. Sua cooperação nesta operação final será considerada, é claro.""Ele sabia," disse Isabella suavemente. "Sobre a morte dos meus pais. Talvez não tenha ordenado diretamente, mas sabia.""Sim," concordou Durand. "E terá que responder por isso, de uma forma ou de outra. Mas também arriscou tudo para ajudar a expor a verdade, no final."Isabella não respondeu. O que poderia dizer? Seu relacionamento com Damien Cassar definia complexidade. Ele era o homem que ela viera destruir, o homem que, de alguma forma, tornara-se seu aliado, talvez até algo mais. O homem que a salvara quando criança e que, agora, ajudara a salvar novamente, de maneiras que ela ainda estava tentando compreender.Horas depois, quando finalmente foi liberada para ir, Isabella encontrou Damien esperando no corredor. Ele p
Um lampejo de surpresa – a primeira emoção genuína – cruzou o rosto de Koval. Antes que ele pudesse reagir, Damien avançou, imobilizando-o com uma técnica precisa que falava de treinamento especializado."Viktor Koval," disse Damien, enquanto agentes da Interpol inundavam o túnel, armas em punho, "você está preso pelo assassinato de Antonio e Maria Rossi, entre outros crimes."Enquanto os agentes algemavam Koval e o levavam embora, Isabella sentiu uma estranha sensação de vazio. O momento que ela imaginara por tanto tempo havia chegado e passado, e ela escolhera um caminho diferente do que planejara. Não sabia se sentia alívio ou decepção.Damien se aproximou dela, hesitante. "Você está bem?"Isabella olhou para ele, realmente olhou, vendo além do CEO poderoso, além do homem que ela viera destruir. Viu alguém tão marcado pelo passado quanto ela, buscando redenção à sua própria maneira."Não," ela respondeu honestamente. "Mas talvez um dia eu esteja."As horas seguintes foram um turbil
"Eu sei que você está aí," ela chamou, sua voz ecoando nas paredes de pedra. "O homem que matou meus pais. O Cirurgião."Por um momento, houve apenas silêncio. Então, uma voz suave, quase gentil, respondeu das sombras à frente."Isabella Rossi. Eu me perguntava quando finalmente nos encontraríamos."Koval emergiu da penumbra, a alguns metros de distância. Sem a confusão da biblioteca, Isabella pôde observá-lo claramente pela primeira vez. Ele era surpreendentemente comum – altura média, constituição magra mas atlética, rosto que poderia pertencer a qualquer homem de negócios ou professor universitário. Apenas seus olhos revelavam sua verdadeira natureza – frios, calculistas, completamente desprovidos de empatia."Você se lembra deles?" perguntou Isabella, a voz trêmula de emoção contida. "Você se lembra dos rostos das pessoas que mata?"Koval inclinou a cabeça levemente, como se considerasse a pergunta com genuíno interesse. "Curiosamente, sim. Cada um deles. Seu pai tinha olhos dete
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