Inferno Em Mim

Inferno Em MimPT

Romance
Última atualização: 2025-06-06
Yiskah  Em andamento
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Índice

Ela aprendeu a ser impecável. A ser bela. A ser dele. Melina Duarte, 34 anos, viveu nas sombras de um amor que a moldou, a feriu e a tornou fria. Ao lado de Miguel Torres — um homem poderoso, mais velho, manipulador — ela aprendeu que submissão pode parecer segurança... até que a dor se torna insuportável. Mas nada prepara Miguel para o momento em que sua “obra-prima” decide se libertar. Quando Kauan Silva cruza seu caminho — um ex-policial tatuado, debochado e leal apenas ao que acredita — Melina começa a questionar tudo. Não o amor. Mas o que realmente é liberdade. Entre o poder, o desejo e o perigo, Melina terá que escolher: voltar a ser moldada… ou incendiar o mundo com as próprias mãos.

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Capítulo 1

🖤 Capítulo 1 – Obediência

A primeira lição que ela aprendeu foi o silêncio.

Melina sentava-se à mesa da casa de Miguel todos os domingos, as mãos sobre o colo, as costas retas como mandava o protocolo invisível, e o olhar fixo no prato, mesmo quando seu estômago estava revirado. Obediência era amor, ele dizia. E amor era sacrifício. Ela repetia isso como um mantra, noite após noite, até que parou de ouvir a própria voz.

Naquela manhã, o espelho refletia a mulher que ele moldara com esmero — salto alto, vestido vinho justo, cabelo perfeitamente alisado. Cada detalhe contava uma história que não era sua. Seu reflexo, por um segundo, pareceu questioná-la. Mas ela desviou o olhar antes que a verdade gritasse.

Miguel odiava desobediência. E Melina era uma aluna exemplar.

Desceu as escadas da mansão com passos firmes, como se cada degrau fosse uma sentença. A casa estava silenciosa, exceto pelo som distante de um saxofone vindo da sala de estar. Miguel gostava de jazz — dizia que era música de homens inteligentes. O cheiro de café recém-passado flutuava no ar, misturado ao perfume caro que ele usava: âmbar, couro e algo levemente metálico.

Ela o encontrou sentado, camisa branca impecável, mangas dobradas, dedos tamborilando lentamente no braço do sofá. Não sorriu ao vê-la. Nunca sorria. Apenas acenou com o queixo para que ela se aproximasse.

— Você atrasou — disse ele, sem tirar os olhos da xícara de café.

— O motorista se perdeu no desvio da avenida nova — respondeu, baixo, como se sua própria voz a punisse por tentar se justificar.

Ele a olhou, finalmente. Aqueles olhos castanhos escuros, duros, como rochas molhadas por tempestades.

— Isso não é desculpa. Se você fosse importante o suficiente, ele teria chegado a tempo.

Silêncio. Melina apenas assentiu. Sentou-se na poltrona à frente, mantendo a postura impecável. Sabia exatamente como deveria parecer: frágil, mas não burra. Bonita, mas não vulgar. Inteligente, mas não desafiadora.

— Você vai ao jantar com os espanhóis hoje à noite — Miguel avisou, tomando um gole do café.

Melina hesitou. Havia outra reunião, uma que ela própria organizara com as mulheres da comunidade da zona norte, para distribuir suprimentos e recrutar discretamente mais colaboradoras para sua rede. Era algo pequeno, mas importante. Algo que ela mesma havia construído, longe dos olhos dele.

— Pensei que você iria com o Ruan — disse, medindo o tom.

O som da xícara sendo colocada com força demais sobre o pires a fez estremecer.

— Ruan não causa impacto. Você, sim. Quero você do meu lado.

E lá estava: o "quero". Nunca foi "gostaria", "preciso", ou "aceitaria". Sempre uma ordem disfarçada de afeto. Miguel a queria como seu troféu — a mulher bela, silenciosa e obediente ao lado do traficante refinado. Um símbolo de poder.

Ela não respondeu de imediato. Uma parte dela queria explodir. Gritar. Dizer que tinha outras prioridades. Mas então, os olhos dele se estreitaram — e ela lembrou. Daquela vez no quarto, o vidro quebrado, a porta trancada, os hematomas em lugares escondidos. Lembrou da dor. Do gosto de sangue na boca. Da solidão.

— Está bem. Irei — disse, e seus olhos pareceram se desligar.

Miguel sorriu, satisfeito, e voltou ao jazz.

Horas depois, Melina estava na suíte, observando a cidade pela janela. A mansão de Miguel ficava em um dos morros mais altos da zona sul — um trono de concreto e violência. As luzes lá embaixo brilhavam como se o mundo fosse belo, como se ela não estivesse presa a um conto de terror disfarçado de romance.

Pegou o celular. Havia uma mensagem de Raissa, sua aliada mais próxima, perguntando se a reunião com as mulheres seria mantida.

"Vai sem mim. Dê as instruções. E diga a elas que logo... tudo muda."

Digitou com os dedos tensos. Enviar aquela mensagem era, por si só, um ato de rebeldia.

No fundo, Melina sabia. Algo dentro dela começava a se agitar. O eco de uma mulher que existia antes de Miguel. Uma faísca. Uma vontade de não obedecer.

Mas ela precisava de tempo. Discrição. Precisava parecer perfeita — até não ser mais.

À noite, no jantar com os espanhóis, ela brilhou.

Cabelo preso num coque milimetricamente desalinhado, olhos esfumados em tons escuros, vestido preto que delineava seu corpo sem gritar. Miguel a apresentou como “minha mulher”. E ela sorriu, como ensaiado. Riu das piadas, fingiu estar interessada nas propostas. Mas seus olhos estavam atentos aos detalhes.

O mais jovem dos espanhóis, Diego, parecia observá-la mais do que devia. Era bonito. Atraente de um jeito perigoso. Mas não foi nele que seus olhos pararam quando o salão se abriu para receber o novo convidado.

Ele entrou como quem não devia nada ao mundo. Jeans escuros, blazer amassado, barba mal feita. Era a antítese de tudo o que aquele ambiente representava.

— Kauan Silva — disse o espanhol, orgulhoso. — Nosso reforço vindo do Brasil. Ex-policial. Sabe como lidar com polícia e com vagabundo.

Melina não escondeu a surpresa. Ele olhou diretamente para ela, como se já a conhecesse. E sorriu. Um sorriso lento, cheio de desafio.

— Encantado, senhora…?

— Melina — respondeu, antes que Miguel o fizesse.

— Melina — repetiu ele, como se provasse o nome na língua. — Bonito. Forte. Nome de mulher que comanda.

Miguel estreitou os olhos. A tensão flutuou no ar como cheiro de pólvora. Mas Melina não desviou o olhar. Pela primeira vez em muito tempo, não desviou.

Na madrugada, deitada ao lado de Miguel, escutando-o roncar, Melina olhava para o teto com os olhos abertos.

Uma palavra martelava em sua cabeça:

Obediência.

E ela soube, com a clareza de uma lâmina:

Estava pronta para desobedecer.

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🖤 Capítulo 1 – Obediência
​⛓️​Capítulo 2 – Gaiola
💔​Capítulo 3 – Cicatriz
👤 Capítulo 4 - Sombra
🏛️🌊🌍Capítulo 5 – Ruína
🌷 Capítulo 6 - Ressurreição
👁️ CAPÍTULO 7 – OLHAR
🚬 Capítulo 8 - Cigarros
❄️ Capítulo 9 - Frieza
⚔️ Capitulo 10 - Duelo
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