Nas semanas que se seguiram, Isabella mergulhou ainda mais fundo no labirinto financeiro da Phoenix Holdings. Cada dia era um ato de equilíbrio, desempenhando o papel da executiva modelo enquanto, nas sombras, ela e Anya montavam o quebra-cabeça da conspiração que vitimara seus pais. A tensão com Damien Cassar continuava a crescer, uma mistura volátil de desconfiança mútua e uma atração inegável que ambos lutavam para disfarçar. Os encontros eram carregados de subentendidos, olhares que se demoravam um pouco mais do que o profissionalmente aceitável e conversas que dançavam na linha tênue entre o corporativo e o pessoal.
Damien parecia se divertir com o jogo de gato e rato, testando os limites de Isabella, observando suas reações. Ele a convidava para jantares de negócios com clientes importantes, onde ela brilhava com sua inteligência e charme, mas sempre sentia os olhos dele sobre si, analisando, decifrando. Em uma dessas ocasiões, em um restaurante sofisticado com vista para a marina de Portomaso, ele comentou, com um sorriso enigmático: "Você é uma mulher de muitas surpresas, Senhorita Rossi. Tenho a sensação de que há muito mais em você do que aparenta."
"Todos nós temos nossas profundezas, Sr. Cassar", ela respondeu, sustentando o olhar dele, o coração acelerado pela audácia da conversa. "Algumas são apenas mais bem guardadas do que outras."
Aquele comentário pareceu agradá-lo. "Gosto de desafios", ele murmurou, antes de o garçom chegar para interromper o momento carregado.
Enquanto isso, Anya fazia progressos significativos. Ela descobrira que a "Serpent's Kiss Holdings" não era apenas uma empresa de fachada, mas um nó central em uma rede de lavagem de dinheiro que se estendia por vários países, com Malta servindo como um conveniente paraíso fiscal. Mais alarmante ainda, Anya encontrou evidências de que a Serpent's Kiss estava ligada a figuras proeminentes do submundo maltês, indivíduos conhecidos por sua brutalidade e por não deixarem rastros.
"Bella, isso é maior e mais sujo do que imaginávamos", disse Anya durante uma de suas videochamadas criptografadas. "Seu pai estava mexendo em um vespeiro. E Cassar... ele está no centro de tudo isso, de alguma forma. Ele é o maestro dessa orquestra macabra, ou pelo menos um dos principais músicos."
Isabella sentiu um nó no estômago. A vingança que ela buscava era contra um homem, mas agora percebia que estava enfrentando uma organização criminosa complexa e perigosa. O risco aumentava a cada dia, a cada nova descoberta.
Um dos elementos que começou a se destacar nas investigações de Anya foi a figura de um certo "Conselheiro", uma entidade misteriosa que parecia ditar as ordens por trás das cortinas da Serpent's Kiss. Ninguém sabia sua identidade, mas seu nome era sussurrado com uma mistura de medo e reverência nos círculos mais obscuros.
Isabella começou a suspeitar que Damien Cassar poderia não ser o topo da cadeia alimentar, como ela inicialmente pensara. Ele poderia ser uma peça poderosa, sim, mas talvez houvesse alguém ainda mais influente, mais perigoso, movendo as cordas.
Essa nova perspectiva adicionava outra camada de complexidade à sua missão. Se ela derrubasse Cassar, o verdadeiro culpado poderia escapar? Ou Cassar era, de fato, o monstro que ela procurava, apenas mais astuto e bem protegido do que ela previra?
Em meio a essa teia de intrigas, a relação de Isabella com Damien continuava a evoluir de maneiras inesperadas. Havia momentos em que ele baixava a guarda, revelando um lampejo de vulnerabilidade, uma sombra de um passado que ela não conhecia. Certa noite, encontraram-se sozinhos no escritório, ambos trabalhando até tarde. Ele parecia cansado, a fachada de controle impecável ligeiramente rachada. Começaram a conversar, não sobre finanças ou negócios, mas sobre Malta, sobre a vida, sobre as pressões de carregar responsabilidades imensas.
Ele contou a ela sobre sua infância em uma vila de pescadores, sobre como lutara para construir seu império do nada. Havia uma melancolia em sua voz que a tocou, apesar de si mesma. Por um instante, ela viu o homem por trás do CEO implacável, e essa visão a assustou. Era mais fácil odiar um monstro do que um ser humano complexo, com suas próprias cicatrizes e demônios.
"Você me lembra alguém que conheci há muito tempo", ele disse de repente, os olhos fixos nos dela. "Alguém com a mesma força, a mesma determinação... e a mesma tristeza nos olhos."
Isabella sentiu um arrepio. Ele estava falando dela? Ou de outra pessoa? A menção à tristeza em seus olhos a desarmou. Era uma observação íntima demais, perigosa demais.
"Todos carregamos nossas tristezas, Sr. Cassar", ela conseguiu dizer, a voz um pouco trêmula.
"Chame-me de Damien", ele pediu, um leve sorriso curvando seus lábios. "Acho que já passamos da formalidade, não concorda, Isabella?"
O uso do primeiro nome dela soou como uma carícia e um aviso. A linha entre inimigos e algo mais estava se tornando perigosamente tênue. Ela sabia que precisava manter o foco, não se deixar distrair por aquela atração proibida, por aquela empatia traiçoeira que começava a surgir. A memória de seus pais, a dor de sua perda, era o antídoto que ela usava para combater qualquer sentimento que não fosse o ódio e o desejo de vingança.
Mas o coração, teimoso, parecia ter outros planos. E em Malta, sob o sol escaldante e as sombras da noite, o jogo estava longe de terminar. O preço da vingança poderia incluir seu próprio coração, e essa era uma aposta que Isabella não sabia se estava preparada para perder.