Os primeiros dias de Isabella na Phoenix Holdings foram uma imersão calculada no coração da fera. Cada reunião, cada relatório financeiro, cada conversa casual no corredor era uma oportunidade para coletar informações, para entender as engrenagens internas do império de Cassar. Ela se movia com uma graça e competência que impressionavam, mascarando a vigilância constante e a análise fria que fazia de cada pessoa e situação.
Seu escritório, embora espaçoso e com uma vista igualmente impressionante para o Mediterrâneo, parecia uma gaiola dourada. As paredes de vidro transmitiam uma falsa sensação de transparência em uma empresa onde segredos eram a moeda mais valiosa. Ela sabia que estava sendo observada, não apenas por Damien, mas por outros executivos de alto escalão, curiosos e talvez desconfiados da recém-chegada que ascendera tão rapidamente.
Damien Cassar, por sua vez, mantinha uma distância profissional, mas seus olhos azuis pareciam segui-la, perscrutando suas intenções. Havia momentos, durante reuniões do conselho ou encontros fortuitos no elevador, em que a tensão entre eles era palpável, uma corrente elétrica de antagonismo e uma atração inexplicável que ambos tentavam ignorar. Ele era o inimigo, o arquiteto de sua dor, mas havia uma complexidade nele que a intrigava contra sua vontade. Ele não era um vilão caricato; era um homem de poder imenso, com uma inteligência afiada e um charme perigoso que desarmaria os incautos.
Isabella passava as noites em seu apartamento luxuoso em Sliema, debruçada sobre os dados que conseguia extrair dos sistemas da Phoenix, cruzando informações com as descobertas que Anya lhe enviava. Anya, com sua genialidade digital, era seus olhos e ouvidos nos cantos mais obscuros da rede, buscando a prova definitiva que ligasse Damien à morte de seus pais. A melhor amiga de Isabella, uma hacker com um senso de justiça tão aguçado quanto o dela, estava determinada a ajudar a desmascarar Cassar. Anya também estava de olho em Marco, o assistente pessoal de Damien, um homem leal e eficiente que parecia ser a sombra do CEO. Havia uma faísca entre Anya e Marco, uma dinâmica que preocupava Isabella, mas que também poderia ser uma vantagem inesperada.
Certa tarde, enquanto analisava projeções de investimento para um novo empreendimento de jogos online em Malta – um setor notoriamente propenso à lavagem de dinheiro e atividades ilícitas – Isabella deparou-se com uma série de transações codificadas, movimentações financeiras que não se encaixavam nos padrões usuais. Eram valores altos, direcionados a empresas de fachada em paraísos fiscais, um rastro que cheirava a ilegalidade. Seu coração acelerou. Seria este o fio da meada que ela tanto procurava?
Decidiu que precisava de acesso a níveis mais profundos dos servidores da Phoenix, algo que seus privilégios como Diretora de Finanças não permitiam. Era hora de usar uma das ferramentas que trouxera consigo: um dispositivo discreto, capaz de copiar dados de forma invisível. O risco era enorme. Se fosse pega, seu plano iria por água abaixo, e as consequências seriam imprevisíveis.
Naquela noite, ficou até mais tarde no escritório, usando a desculpa de finalizar um relatório urgente. O andar estava silencioso, a maioria dos funcionários já havia partido. Apenas a equipe de segurança e alguns poucos viciados em trabalho permaneciam. Era a oportunidade perfeita.
Com as mãos trêmulas, mas com uma determinação férrea, ela se dirigiu à sala dos servidores, um local de acesso restrito. Usando um cartão de acesso que conseguira clonar sutilmente de um técnico de TI, ela entrou no ambiente frio e barulhento. As luzes piscantes dos servidores pareciam olhos vigilantes na penumbra. Precisava ser rápida.Conectou o dispositivo a um dos terminais principais, o coração batendo descompassado no peito. Cada segundo parecia uma eternidade. O d******d dos arquivos criptografados começou, lento, angustiante. Do lado de fora, ouviu o som de passos se aproximando. Alguém estava vindo.