O tempo passou como uma maré silenciosa.
Oito semanas se foram desde aquela manhã em que deixei o bilhete. Desde que fugi não só de Enzo... mas de tudo. De Luca. Da mansão. Da confusão que havia se tornado minha vida. Fugi para dentro de mim.
E ali me reconectei com algo que eu tinha deixado para trás: meu propósito.
A medicina.
Me entreguei aos estudos com uma intensidade nova, quase obsessiva. Eram os plantões, os trabalhos finais, a apresentação do projeto clínico. Era a sensação de que, se eu me mantivesse ocupada o bastante, as feridas não gritariam tão alto. E, de algum modo, funcionou.
Hoje, finalmente, era o dia da formatura.
Olhei para meu reflexo no espelho e quase não me reconheci. O jaleco branco recém-passado estava impecável. Os cabelos presos num coque elegante. A maquiagem suave apenas ressaltava os olhos cansados, mas determinados. Havia dignidade no cansaço. Havia algo meu ali que eu não via há muito tempo: paz.
A campainha tocou.
Abri a porta com o coração disparado