Ponto de vista: Sara
Nunca pensei que um simples chuveiro quente pudesse me fazer chorar.
Mas ali estava eu — com as costas encostadas na parede fria do box, a água escorrendo pelo meu corpo como se pudesse lavar o medo impregnado na pele.
Minhas mãos tremiam. A garganta apertada queimava de silêncio. Só quando fechei os olhos e vi, de novo, o brilho metálico da arma encostada nas minhas costas, foi que desabei de vez.
As lágrimas vieram pesadas. Irritantes. Raivosas.
Eu, que me achava forte. Que quis tanto retomar a faculdade, o trabalho, a rotina. Como se pudesse fingir que a minha vida não tinha mudado por completo.
Mas mudou. Drasticamente.
E agora, até andar sozinha no campus se tornava uma sentença.
Quando finalmente saí do banho, me enrolei na toalha e parei diante do espelho. Meu reflexo estava abatido. Cabelos pingando, olhos vermelhos, expressão perdida. Mas o que mais me incomodava era o vazio no peito. Aquela sensação de que, por alguns minutos, eu deixei de existi