Ponto de vista: Sara
A madrugada caiu preguiçosa, mas o sono não veio.
Fiquei rolando na cama, os lençóis amassados ao redor do corpo, tentando afastar a lembrança do dia — e os sentimentos conflitantes que cresciam em mim como raízes teimosas. Medo, alívio... e desejo. Não só por Luca, mas por algo que estava começando a surgir com outro nome. Enzo.
Era errado sentir aquilo?
Talvez. Mas o que naquela nova vida não era?
Levantei-me, ainda com a camisola fina que usava desde o banho, e desci devagar. Queria água. Talvez ar. Talvez respostas.
A casa estava silenciosa. As luzes da sala estavam baixas, e o aroma do chá que alguém havia feito mais cedo ainda pairava no ar. Foi quando me aproximei da varanda que vi a silhueta dele.
Enzo.
Sentado numa das poltronas do deque, com um copo de uísque na mão, encarando o jardim como se esperasse que algo saísse de lá.
Hesitei por um momento antes de abrir a porta deslizante de vidro. Ele virou o rosto lentamente e seus olhos encontraram os meus.