Voltamos cambaleando pelas calçadas esburacadas do centro, rindo por qualquer coisa — um cachorro que espirrou, um homem vendendo isqueiro com a calça rasgada, ou talvez só rindo do quanto já tínhamos bebido.
Minha mãe se apoiava em mim e, de tempos em tempos, parava para olhar as estrelas, como se enxergasse ali todas as respostas do universo.
— Sabe o que é o mais doido? — ela disse, encostada em um poste, já com o batom borrado e os olhos brilhando. — Você acha que tá no controle... e aí vem a vida e pá, te joga de cara no colo de dois homens maravilhosos. Isso é destino, minha filha. E destino... a gente beija de língua.
Ri tão alto que meus olhos se encheram de lágrimas.
— Você não tem filtro nenhum quando bebe, né?
— Não. E você também não deveria ter.
Pegamos o último quarteirão como se fosse uma maratona olímpica. O silêncio da rua só era quebrado pelas nossas risadas e comentários soltos. Minha mãe tropeçou no tapete da portaria e caiu sentada no chão do elevador, gargalhando