Saí do quarto com a cabeça quente.
O silêncio do corredor não ajudava. Ecoava o que eu sentia por dentro: o peso das palavras não ditas, das escolhas sufocadas, do limite que a gente fingia que não estava se aproximando.
Fechei a porta atrás de mim. Dei dois passos e parei.
Ela estava ali.
Sara.
No meio do corredor, como se tivesse surgido do nada. Talvez tivesse. Talvez fosse isso que ela fazia comigo: aparecia nos meus momentos mais conturbados e, ainda assim, parecia o único ponto fixo.
Vestia uma blusa larga, cinza, que deixava um ombro nu. A calça de moletom marcava leve as curvas, mas o que me atingiu foi o olhar. Os olhos castanhos, grandes, que me procuravam como se buscassem ar.
— Você falou com ele — disse ela, a voz baixa, hesitante.
Assenti. Minhas mãos ainda estavam cerradas, mas quando ela se aproximou, se soltaram. Era automático.
— Sim. Ele sabe.
— E agora?
— Agora a gente redobra a segurança. Rafael tá terminando de verificar todos os carros, inclusive o de