A noite caiu por completo.
Ana estava dormindo no quarto deles, enrolada no lençol, os cachos espalhados sobre o travesseiro como uma coroa escura e desfeita. O rosto sereno, o peito subindo e descendo devagar. Parecia em paz. Ainda acreditava que poderia ir a São Paulo. Que Kenji a deixaria ir. Mas ele... não dormia. Estava na varanda lateral do quarto, com a porta entreaberta, sentado em uma cadeira de madeira escura, sem camisa, com uma taça de saquê pela metade. O olhar fixo no jardim iluminado pelas lanternas baixas e pelo céu nublado. Na mão, o celular. Aberto no e-mail de Marcos. Lido mais de vinte vezes. “30 dias.” “Presencial.” “Sem margem legal.” Kenji sorriu, mas o sorriso não era doce. Era frio. Racional. Como se estivesse calculando o desaparecimento de uma cidade inteira sem derramar sangue. E