A luz da manhã não parecia pertencer à mesma realidade da noite passada.
O céu estava limpo, o vento ainda soprava pelas janelas abertas dos corredores, trazendo o cheiro da grama molhada misturado ao leve aroma de café vindo da cozinha. Tudo parecia normal. Mas eu não estava.
Meus olhos ardiam como se eu não tivesse dormido — e de fato, mal preguei os olhos. Passei horas deitada de lado, encarando a parede, repetindo mentalmente cada gesto, cada palavra, cada maldito silêncio dele. E o pior não era lembrar da raiva.
O pior era lembrar do desejo.
Aquela parte do meu corpo que ainda o desejava me fazia odiar a mim mesma. Mais do que odiava a ele.