O dia avançava com uma lentidão quase cruel. Paloma tentava se distrair: varreu o chão, lavou a varanda, reorganizou seus poucos livros na prateleira improvisada. Depois, sentou-se para ler, mas as letras dançavam diante dos seus olhos, incapazes de prender sua atenção.
Porque tudo em sua mente retornava ao mesmo ponto: César.
O modo como a olhava, como se ela fosse a única mulher no mundo. O jeito como a tocava, firme e ao mesmo tempo reverente, como se cada centímetro de sua pele tivesse valor. As palavras que murmurara em seu ouvido durante a noite anterior ainda ecoavam, doces e perturbadoras.
Paloma abraçou os joelhos e suspirou, perdida em lembranças que a deixavam corada.
Foi então que a batida na porta a fez se sobressaltar. O coração acelerou de imediato, um sorriso surgiu em seus lábios.
— Já voltou? — perguntou, apressando-se até a entrada.
Mas, ao abrir a porta, o sorriso morreu.
Não era César.
Era Nicácio.
Ele estava parado no batente, os cabelos desgrenhados pelo vento,