Quando Alina, uma estudante de psicologia prestes a se formar, se vê no lugar errado, na hora errada, ela vira moeda de troca em uma dívida de seu irmão. Levada para uma mansão isolada nas montanhas, ela cai nas mãos de Dante Morelli, um homem frio, impenetrável e letal — o tipo de homem que não pede, exige. Ela seria apenas refém, um peão. Mas Dante não segue regras. Ele a observa. A provoca. A toca. E quando ela tenta resistir, ele transforma a cela em um quarto de luxo... e a dor em desejo. O que começa como ódio se transforma em algo muito mais perigoso: atração. E quando ela engravida dele, Alina acha que finalmente será libertada. Mas Dante não está disposto a deixá-la ir. Agora ela não é apenas sua prisioneira. Ela é a mãe do seu filho. E ele não divide o que é dele. Nunca.
Ler maisDante Morelli
Chove.
 Chove como se o céu estivesse tentando lavar essa cidade podre.  Mas nada limpa o que já nasceu manchado.O galpão onde estou fede a ferrugem, óleo velho e medo. O tipo de medo que escorre em silêncio, que se impregna nas paredes. Já me acostumei com esse cheiro. Cresci dentro dele. Me tornei homem com as mãos sujas disso.
O cara amarrado na cadeira — rosto inchado, boca sangrando, olhos arregalados — não parece ser o mesmo garoto promissor que estudou fora, cheio de diplomas e oportunidades. Um Ribeiro, me disseram. Rafael ou Adam, tanto faz. Só é mais um merda que achou que podia subir rápido apostando com dinheiro dos outros. Dinheiro meu.
— Diga de novo. — minha voz sai baixa, firme. Não preciso gritar. Nunca precisei.
O idiota à minha frente hesita. Eu vejo o terror no fundo dos olhos dele. Não é só medo da dor. É medo do fim. Da morte. Ele sabe que está com um pé na cova.
— Eu tenho uma irmã — ele murmura, cuspindo sangue com as palavras. — Está quase se formando em psicologia. Inteligente. Discreta. Vocês precisam de alguém assim no time de vocês.
Arqueio uma sobrancelha. Será que entendi direito?
— Você está me oferecendo sua irmã… como pagamento?
— Façam o que quiserem com ela. Só… só não me matem.
O riso de Enzo, um dos meus homens, quebra o silêncio. Um som baixo, cínico. Eu não rio. Nem me movo.
Esse tipo de desespero tem valor. Não o da proposta — ainda — mas o de saber até onde um homem vai pra continuar respirando. Há meses estou limpando os porcos do sistema. Herdar os negócios da Famiglia significou assumir a parte mais suja e mais verdadeira da vida. E parte do meu trabalho é separar o lixo reciclável do que vai direto pro fogo.
— Você sabe quanto deve?
Ele hesita, tenta parecer lúcido.
— Eu… perdi a conta.
— O suficiente pra justificar sua morte. — dou um passo à frente. — Você usou o nome Morelli pra se endividar. E não pagou. Isso não é só burrice. É crime.
Ele balbucia algo, e depois repete:
— Eu posso pagar… com ela.
Me aproximo devagar. O cheiro do medo dele é quase doce.
— O que você acha que é isso aqui? Um leilão? Um puteiro? — murmuro, firme, sentindo a tensão se espalhar pelo cômodo. — Acha que pode me convencer com carne?
— Ela é útil! — ele explode, a voz embargada. — É quase formada, vai trabalhar com mentes. Pode ajudar vocês. Analisar, interrogar, sei lá… só me dá uma chance! E acima de tudo sei que ela é virgem!
Fico em silêncio por alguns segundos. Meus olhos vasculham os dele. É real. Ele tá mesmo oferecendo a irmã como escudo humano. É nojento. É desesperado. E, por um breve segundo… é intrigante.
— Nome.
— Alina. Alina Ribeiro.
Alina.
O nome paira no ar como uma promessa não dita.
— Ela sabe o que anda fazendo?
— Não…
Claro que não. As melhores moedas de troca nunca sabem que estão sendo leiloadas.
— E como pretende entregá-la? — pergunto, voltando pra minha cadeira. Me sento devagar, observando o corpo à minha frente tremer. — Vai amarrá-la como eu fiz com você? Ou vai trazer com laço de fita?
— Ela confia em mim. Eu posso levá-la pra onde quiser. Eu invento uma desculpa. Proposta de emprego, viagem… qualquer coisa. Só me dá tempo.
Ele parece sincero. Mas homens desesperados são bons mentirosos.
— Você sabe o que acontece com quem trai, não sabe?
Ele assente.
— E com quem nos deve?
Outro aceno.
— E com quem vende a própria irmã?
Dessa vez, demora. Quando responde, é quase um sussurro:
— Eu prefiro o ódio dela… do que morrer aqui.
Cínico. Covarde. Mas honesto.
Observo-o em silêncio. Me levanto e começo a andar em círculos ao redor da cadeira. Sinto o peso da escolha que ele me atira como se fosse solução. Eu devia mandar matá-lo agora. Só pra manter a ordem. Mas esse nome… Alina… tem um som que não sai da cabeça.
— Vou considerar sua oferta. — digo por fim, parando atrás dele. — Mas se ela der trabalho… você vai implorar pela morte. E eu vou negar.
Ele balança a cabeça freneticamente. As lágrimas misturam com o sangue.
— Ela não vai. Eu prometo.
— Você sabe que ela nunca mais vai ser livre, certo?
— Sim.
— E que se for tão valiosa quanto você promete… talvez eu não solte ela nunca?
Ele hesita. Treme. Depois, diz:
— Melhor do que morrer.
Melhor do que morrer… Quantas escolhas na minha vida foram feitas com base nesse princípio?
— Vá pra casa — ordeno. — Traga Alina até mim em sete dias. Saudável. Sem feridas. Sem desconfiança. Se ela souber de algo… se fugir… se você mentir pra mim…
Não preciso terminar.
Ele entendeu.
Horas depois, quando o carro dele desaparece na curva da estrada, me sento novamente. As luzes do galpão piscam. O silêncio volta a reinar, pesado.
Alina Ribeiro.
Bonita? Talvez. Que diferença faria?
O que me intriga é a coragem do irmão. Ou a covardia. Ele entregaria um pedaço do próprio sangue pra não morrer. Isso diz muito sobre ele. Mas diz ainda mais sobre ela.
Que tipo de mulher foi criada ao lado de um homem assim?
 Será que ela é o oposto?  Será que vai se dobrar, ou resistir?Respiro fundo. Um nome nunca teve tanto peso. E, ainda assim, tudo em mim me diz que essa mulher vai trazer mais do que ele prometeu.
Mas uma coisa é certa:
Quando Alina Ribeiro cruzar a minha porta… não sai mais sai.
(Dante)A manhã estava morna, o sol já alto no céu claro. Sentei-me à cabeceira da longa mesa da sala de jantar, o jornal aberto à minha frente, mas os olhos presos à porta. As xícaras de porcelana estavam dispostas com perfeição, o café servido e os pães ainda exalavam o aroma quente da fornada. Tudo como deveria estar.Exceto por ela.Alina.O lugar à minha direita permanecia vazio. Aquele que, nos últimos dias, ela vinha ocupando com relutância e olhares desafiadores. Mas ainda assim, vinha. Hoje, não.— Rosete — chamei, sem levantar o tom.A governanta apareceu quase de imediato, sempre pontual, como se esperasse meus comandos com antecedência.— Senhor Morelli? — disse, com um leve aceno de cabeça.— Ela ainda não desceu? — perguntei, embora já soubesse a resposta.— Não, senhor. — Ela hesitou. — Bati algumas vezes, mas não respondeu.Suspirei, dobrando o jornal com um estalo e jogando-o sobre a mesa. A imagem de Alina me veio à mente, trancada naquele quarto como se mais nada im
A luz que entrava pelas grandes janelas da biblioteca pintava o chão com tons dourados, aquecendo o ambiente silencioso como um cobertor invisível. Eu havia perdido a noção do tempo novamente entre os livros. Cada página virada era uma tentativa desesperada de escapar da realidade ao meu redor — a mansão, a ausência de liberdade, e principalmente, a presença de Dante Morelli em minha mente.Foi então que sua voz cortou o silêncio, baixa e grave, tão inesperada quanto uma tempestade em céu limpo:— Pretende ficar cega de tanto ler?Levantei os olhos, tentando esconder o pequeno sobressalto que sua chegada causara. Ele estava encostado no batente da porta, com aquele ar de superioridade preguiçosa, como se pertencesse a todos os lugares ao mesmo tempo — especialmente aos que eu ocupava.— Prefiro isso a olhar para sua cara. — respondi, arqueando uma sobrancelha, um meio sorriso dançando em meus lábios.Seus olhos brilharam com o desafio, e por um momento, o silêncio entre nós pareceu pu
(Visão de Dante)Havia acordado antes do sol, como sempre. A casa ainda dormia, mergulhada em um silêncio espesso que eu apreciava. Era nesse vazio que minha mente trabalhava melhor. Sentado na poltrona de couro do meu escritório, assisti a fumaça do charuto dançar sob a luz tênue que escapava da lareira. Alina havia mexido comigo mais do que eu queria admitir.Ela era diferente. Não era apenas bonita. Era inquieta, teimosa, impetuosa. Um incêndio coberto por seda. E aquilo… me fascinava. Me desafiava.Passei a madrugada revendo as gravações. Sim, havia câmeras. Não por desconfiança, mas por controle. Sempre tive a necessidade de enxergar tudo. Dominar tudo. Mas naquela noite, foi ela quem quase me dominou.Quando Alina sentou ao piano, mesmo hesitante, sua delicadeza contrastava com o veneno nos olhos. Seu corpo tremeu ao meu toque, e ainda assim ela não fugiu. O calor dela atravessava o tecido fino do vestido como uma maldição.E quando recuou... foi o gesto mais honesto que já rece
A água ainda escorria das pontas do meu cabelo quando saí do banheiro, envolta em uma toalha que mal dava conta de cobrir minha pele ainda quente do banho. O vapor preenchia o quarto como uma névoa morna, deixando tudo embaçado, suavizado. Mas não havia nada suave no que me aguardava do lado de fora.Dante estava ali. Sentado na beira da cama, como se fosse dono não apenas do espaço, mas também do momento. Entre as mãos grandes e másculas, ele segurava a camisola vermelha de renda. A mesma que eu havia deixado dobrada sobre a colcha. A forma como ele a observava — quase com reverência — me arrepiou inteira.Travei onde estava, sem saber se voltava correndo para o banheiro ou se enfrentava a figura que parecia mais escura do que a própria noite do lado de fora da janela.Ele levantou o olhar lentamente, como se saboreasse o desconforto que provocava em mim. Nossos olhos se encontraram, e naquele instante, senti como se o mundo parasse de girar. Meu estômago revirou, minha pele se contr
(Dante)O Cassino Morelli era um organismo vivo naquela noite. Luzes pulsando em tons vermelhos e dourados dançavam sobre os espelhos, refletindo a ganância estampada no rosto de cada jogador. O tilintar constante das moedas, o giro incessante das roletas, os suspiros contidos e os gritos de vitória se misturavam em um cântico de perdição.Estava no andar superior, na sala de vigilância, de onde podia observar tudo. A parede de vidro reforçado me dava uma visão completa do império que construí com sangue, silêncio e disciplina. Era meu reino. E naquela noite, como em todas as outras, eu o dominava.Enzo estava encostado perto da janela, mascando chiclete como se o mundo não estivesse prestes a explodir sob nossos pés.— As garotas de sexta cancelaram — ele disse, os olhos grudados na tela do celular. — A polícia fechou o clube onde estavam. Vamos precisar de novas.Continuei observando o salão, focando em um homem de terno escuro que apostava alto demais para quem devia tanto. Me
O cheiro de carne assada com ervas frescas chegou antes que a porta se abrisse. Sentei-me na poltrona junto à janela, onde passara o final da tarde lendo, o livro ainda aberto no meu colo. O crepúsculo pintava o céu com tons alaranjados, refletindo-se no vidro com uma melancolia quase poética. Mesmo ali, naquela prisão dourada, conseguia encontrar momentos de silêncio que pareciam me pertencer. Momentos em que eu me lembrava de quem eu era antes de tudo isso.A porta se abriu com um rangido discreto. Era a governanta.Me senti decepcionada ao vê-la, uma pequena parte estranha de mim esperou que fosse Dante. Roseta Sempre se movia com precisão, como se cada gesto fosse ensaiado. Carregava a bandeja de prata com o jantar.— O jantar — disse com sua voz calma, colocando a bandeja sobre a mesinha ao lado da poltrona.— Pensei que jantaria com ele... de novo — Minha voz saiu baixa.Ela ajeitou o guardanapo, colocando-o cuidadosamente ao lado do prato.— O senhor Morelli está ocupado esta
Último capítulo