O cheiro de carne assada com ervas frescas chegou antes que a porta se abrisse. Sentei-me na poltrona junto à janela, onde passara o final da tarde lendo, o livro ainda aberto no meu colo. O crepúsculo pintava o céu com tons alaranjados, refletindo-se no vidro com uma melancolia quase poética. Mesmo ali, naquela prisão dourada, conseguia encontrar momentos de silêncio que pareciam me pertencer. Momentos em que eu me lembrava de quem eu era antes de tudo isso.
A porta se abriu com um rangido discreto. Era a governanta.
Me senti decepcionada ao vê-la, uma pequena parte estranha de mim esperou que fosse Dante. Roseta Sempre se movia com precisão, como se cada gesto fosse ensaiado. Carregava a bandeja de prata com o jantar.
— O jantar — disse com sua voz calma, colocando a bandeja sobre a mesinha ao lado da poltrona.
— Pensei que jantaria com ele... de novo — Minha voz saiu baixa.
Ela ajeitou o guardanapo, colocando-o cuidadosamente ao lado do prato.
— O senhor Morelli está ocupado esta