Dezoito anos. A idade que todos esperavam. A idade em que a primeira lua cheia adulta revelaria quem eu realmente era.
Que minha loba sairia para fora.
A casa estava em movimento desde cedo. Minha mãe arrumava a cozinha com nervosismo, como se cada prato tivesse que estar impecável para a noite. Eu a observava em silêncio, sabendo que, por trás de seus gestos apressados, havia segredos que ela não tinha coragem de me contar.
— Hoje é o seu dia, Rebecca — disse, tentando sorrir. — Aproveite, meu bebê.
Senti o peso da frase. Não era só um aniversário. Era o início de algo maior, algo que nem eu compreendia.
Passei a manhã ajudando nos preparativos, mas a ansiedade me sufocava.
18 anos enfim.
Então resolvi fugir por algumas horas para o único lugar que sempre me trouxe paz... A cachoeira.
O caminho até lá era estreito, escondido entre árvores que pareciam mais altas e antigas do que qualquer outra da floresta. O som da água caindo já me alcançava de longe, e meu coração acelerava como se aquele lugar fosse meu refúgio secreto, onde eu podia ser apenas eu mesma.
Onde eu e a cachoeira fossemos apenas um ser.
Quando cheguei, tirei o vestido leve e mergulhei na água gelada sem hesitar. A água me envolveu inteira como se me desejasse boas vindas, lavando os pensamentos pesados, levando com ela o medo e a confusão. Fechei os olhos, deixando que as gotas caíssem pelo meu rosto, que meus cabelos se espalhassem pela superfície.
Por alguns minutos, esqueci da matilha, da pressão, dos olhares. Principalemnte dele.
Do alfa.
Era só eu e a água.
Mas eu não estava sozinha.
Entre as árvores, escondido na sombra, ele estava ali.
Danilo.
Eu sentia sua presença, sentia seu cheiro.
O alfa observava em silêncio, o maxilar travado, os olhos âmbar brilhando com intensidade. A cena o prendeu de um jeito que ele não queria admitir. A garota que ele rejeitava em público estava ali diante dele, livre, selvagem, banhada pela luz da manhã e pela espuma da cachoeira. Não havia ornamentos, não havia máscaras, apenas a verdade nua e crua em frente aos seus olhos.
Eu não soube o que se passava na sua mente bizarra de alfa.
Continuei nadando, rindo sozinha ao sentir os peixes tocarem meus pés, mergulhando de novo para deixar a água fria me despertar.
Danilo desviou o olhar, como se lutasse contra a própria natureza. Como se aquela visão fosse um crime. Virou-se, desaparecendo entre as árvores, levando com ele um segredo que queimava mais do que qualquer ferida.
Quando saí da água, enxugando o rosto com as mãos, senti um arrepio estranho, como se tivesse sido observada.
Mas do que sabia que havia sido.
Balancei a cabeça, tentando afastar a sensação, e vesti o vestido de novo.
Naquela tarde, antes da festa começar, eu deitei um instante para descansar e depois começar me preparar para o que ainda iria acontecer. Mas o sono veio rápido, e com ele, o sonho.
Olhos dourados. Brilhando na escuridão. Chamando por mim.
Gritando meu nome alto.
E, mesmo dormindo, minha mente e meu coração já sabia, minha vida nunca mais seria a mesma.