Capítulo 7

O dia seguinte amanheceu abafado demais, estranho demais, com nuvens pesadas cobrindo o céu, como se até o clima soubesse que algo estava fora do lugar. Caminhei até a casa principal da matilha com a cesta de pão que minha mãe tinha preparado. A rotina parecia a mesma, mas, por dentro, nada estava igual. Desde a noite da caçada, a lembrança do olhar de Danilo não saía da minha mente. Aquela faisca, rápida, quase invisível , mas que queimava em mim mais do que qualquer palavra fria que ele tivesse jogado.

Enquanto atravessava o pátio, percebi que alguns rostos se viraram em minha direção. Murmúrios começaram a se espalhar, abafados, mas suficientes para me deixar desconfortável. Não era novidade que falassem de mim. eu sempre fui a filha da viúva, a garota da família Silva, aquela sobre quem pairavam expectativas estranhas. Mas havia algo diferente no ar.

Sentei-me num dos bancos de pedra, tentando ignorar. Logo, Clara se aproximou com o sorriso venenoso que eu já conhecia bem. Já que um dia fomos melhores amigas.

— Dormiu bem depois do susto da caçada, Rebecca? — perguntou, alto o suficiente para que todos ouvissem. — Ou ainda está tremendo do medo?

Alguns riram, mas não respondi. Não daria a ela o prazer.

— Dizem que o alfa a salvou — continuou, se inclinando um pouco mais perto de mim. — Que sorte a sua, não é? Imagina se o alfa não tivesse perto.

— Não pedi ajuda — rebati, finalmente, tentando manter a voz firme.

Ela ergueu as sobrancelhas, fingindo surpresa.

— Claro que não. Mas todos viram. O alfa não salva qualquer um.

O coração apertou dentro do peito. Eu sabia que havia algo nas palavras dela, uma provocação que escondia mais.

— O que você quer dizer com isso? — perguntei, estreitando os olhos.

Clara sorriu, satisfeita.

— Só estou dizendo que os rumores começaram. Todos querem saber quem será a escolhida. A Luna do alfa.

Meu estômago revirou. Não havia assunto mais sussurrado do que esse. Ser a companheira destinada ao alfa significava mais do que casamento; era um elo espiritual, um vínculo sagrado.

— E você tem alguma aposta? — arrisquei.

Ela riu, recuando um passo.

— Não preciso apostar, Rebecca. Só olhar ao redor.

Foi então que percebi os olhares. Alguns jovens cochichavam entre si, e todos os olhares se voltavam para a mesma direção: uma garota de vestido vermelho, filha de conselheiros, que conversava animadamente com outras moças perto da entrada da casa central. O riso dela soava alto, confiante, como se já tivesse o futuro garantido.

— Ela será a Luna. — O sussurro percorreu o pátio como fogo em palha seca.

Eu abaixei a cabeça, fingindo que não me importava, mas a dor era como uma faca silenciosa perfurando o peito.

No fundo, uma parte de mim já sabia.

Danilo não olharia para mim.

Não quando havia outras tão prontas para ocupar meu lugar.

Mais bonitas, ricas e perfeitas para serem a Luna da nossa matilha.

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