A primeira coisa que senti foi o cheiro dele.
Amadeirado, quente, misturado ao sangue seco e à fumaça da fogueira.
O segundo foi a dor, uma pontada aguda no ombro, outra nas costelas, e uma fisgada profunda no peito, como se o coração ainda lutasse para se lembrar de bater.
Abri os olhos devagar.
O teto do abrigo era de pedra escura, iluminado por pequenas chamas que dançavam nas tochas.
O som da chuva ainda vinha de fora, mas lá dentro tudo era silêncio.
Senti o toque dele antes de o ver.
Mãos grandes, quentes, movendo-se com delicadeza.
Os dedos passavam sobre minha pele com cuidado, limpando o sangue, envolvendo as feridas com tiras de pano improvisadas.
Por um instante, não ousei respirar.
Danilo estava ajoelhado ao meu lado, sem camisa, o corpo coberto de cortes e hematomas, mas o olhar fixo em mim.
O cabelo úmido caía sobre a testa, e cada movimento parecia conter o esforço de alguém que se sustentava apenas pela vontade.
— Não devia se mexer — disse, sem olhar diretamente para