O som da chuva havia cessado.
Por um instante, pensei que estivesse sonhando, porque a única coisa que conseguia ouvir era o ritmo compassado de uma respiração próxima.
Quando abri os olhos, ele ainda estava lá.
Danilo.
Encostado à parede, o corpo grande, exausto, coberto de marcas.
Dormia sentado, como se o sono o tivesse vencido no meio da vigília.
O fogo já havia se apagado quase por completo, e a luz que restava vinha da claridade tímida que entrava pela fenda da rocha.
Era estranho vê-lo assim, vulnerável, humano, quase frágil.
Por tanto tempo o associei à força, ao comando, àquele olhar impassível que fazia todos se calarem.
Agora, diante de mim, parecia apenas um homem tentando segurar o próprio coração com as mãos vazias.
Fiquei observando-o por longos segundos.
Não sabia se sentia pena, raiva ou algo que eu não queria nomear.
A loba, silenciosa dentro de mim, apenas murmurou:
Ele não dormiu por você. Dormiu ao teu lado para não perder você.
Balancei a cabeça, afasta