Quando fugi da minha matilha, achei que bastaria desaparecer. Que bastaria andar quilômetros até que o cheiro das árvores não fosse mais familiar e os rostos que me conheciam não pudessem me seguir. Onde ninguém me conheceria. Acreditei, ingenuamente, que se eu me tornasse invisível, o mundo me esqueceria. Mas sobreviver entre humanos exige mais do que silêncio. Exige uma nova pele, uma nova história.
No abrigo, ninguém fazia muitas perguntas, mas a cada formulário, a cada ficha que precisavam preencher, eu sentia o peso da verdade que não podia ser dita. Nome. Idade. Endereço. Família. Essas palavras, tão simples no papel, se tornavam facas. Porque cada uma delas era um lembrete daquilo que eu havia perdido.
— Você precisa de um documento, Rebecca — disse Sofia, a coordenadora do abrigo, quando percebi que a insistência dela era mais séria do que um comentário casual. — Sem ele, não conseguimos te indicar para nenhum emprego fixo.
Eu a encarei, tentando disfarçar o pânico.
— Eu… perd