Após ser brutalmente assassinada, Jade Belrose desperta em seu caixão, sem saber como ou por quê. Determinada a descobrir quem está por trás da conspiração que tirou sua vida, ela se depara com uma verdade ainda mais chocante: seu marido, Viktor Morvane, o homem que ela acreditava ser indiferente e frio, sempre esteve protegendo-a das sombras mais sombrias da elite em que viviam. Agora, Jade está dividida entre o desejo de vingança e um sentimento inesperado: o amor por aquele que ela jurou odiar.
Ler maisO cheiro de ferro e suor impregnava o ar abafado. O frio do chão de pedra contrastava com o calor pegajoso do sangue que escorria lentamente da testa de Jade, deslizando por sua pele pálida. Os pulsos estavam amarrados com cordas ásperas que cravavam na carne, provocando uma dor surda e constante. Uma venda negra cobria seus olhos, mergulhando-a em uma escuridão opressora. Tudo o que restava era o som. Passos ecoando, o tilintar de lâminas afiadas e sorrisos abafados pelo rancor.
O coração dela batia com uma fúria descompassada, lutando para manter alguma sanidade. O gosto metálico na boca lembrava que já havia gritado demais. O silêncio, agora, era sua única arma. "Que fofa, ela ainda acha que vai conseguir escapar", disse uma voz feminina, cortando o ar como uma lâmina. Doce como veneno, carregada de escárnio. A venda foi arrancada de seu rosto com um puxão brusco. A luz crua da tocha atingiu seus olhos sensíveis, forçando Jade a piscar até a visão se ajustar. Quando finalmente enxergou, o choque a golpeou com mais força do que qualquer tortura física poderia. Helena. Ela estava ali, em pé, com um sorriso satisfeito curvando seus lábios perfeitos. Seus longos cabelos ruivos caíam como cascatas de fogo sobre seus ombros, e seus olhos cor de mel, penetrantes e frios, brilhavam com algo que Jade nunca havia visto antes: uma mistura de prazer e loucura. O rosto impecável estava maquiado como se fosse para um evento, não para uma cena de horror. "Surpresa?" Helena se aproximou, inclinando-se para sussurrar perto do ouvido de Jade. "Sempre foi você, não é? A favorita. A adorada. Mas veja só agora... quem está no controle?" Jade quis falar, mas a garganta seca e a dor pulsante não permitiram. Seus olhos buscaram uma saída, qualquer sinal de salvação, mas o que encontrou foi algo ainda pior. Julie, sua irmãzinha, estava ali, caída no chão frio, os olhos vítreos fixos no nada. O sangue formava uma poça ao redor de seu corpo frágil, tingindo a pedra de um vermelho cruel. Jade tentou gritar, mas só um soluço rouco escapou. "Oh, não chore agora, Jade", zombou Helena, segurando o rosto dela com uma mão fria e cruel. "Ela foi um lembrete de que tudo que você ama pode ser tirado de você... assim." “Des… graçada…” Jade sussurrou, sua voz rouca se desfazendo por um fio. O mundo de Jade desabou. O som do riso de Helena se misturava com o zumbido em seus ouvidos. Ela mal percebeu os homens sombrios ao lado da amiga traidora, seus olhares vazios e sorrisos lascivos. Eles a puxaram com brutalidade, arrastando-a como se fosse nada além de um fardo. O inferno continuou. Quando finalmente a largaram, Jade era apenas um eco do que havia sido. Não havia mais orgulho, nem forças. Só dor. E raiva. Helena se aproximou uma última vez, segurando uma adaga com um brilho prateado, refletindo o fogo das tochas e o desespero nos olhos de Jade. "Sabe o que é mais engraçado?" Helena sussurrou, inclinando-se para perto. "Ele nunca te amou. Viktor... ele te tolerava. Eu sou quem ele deveria ter escolhido." O golpe veio rápido. O metal frio rasgou o abdômen de Jade, e a dor foi tão intensa que ela não conseguiu gritar. O sangue quente jorrou, manchando o chão já saturado. Helena segurou seus cabelos ensanguentados, erguendo sua cabeça para que seus olhos se encontrassem uma última vez. "Agora você é só uma memória", murmurou Helena, deslizando a lâmina pelo pescoço de Jade com precisão, um sorriso psicótico estampado no rosto. O mundo começou a desaparecer. Ela não sabia quanto tempo havia se passado, mas escutou os saltos altos de Helena batendo freneticamente contra o chão, os passos tornando-se cada vez mais distantes, até sumirem por completo. O som ficou abafado, a luz se esvaiu e o único eco que permaneceu foi uma voz distante, desesperada, gritando seu nome: "JADE!" A voz de Viktor. E então... silêncio. ..... Não era o fim. Jade ofegou, o ar invadindo seus pulmões como uma lâmina afiada. Seus olhos se abriram abruptamente, fixos no teto escuro acima dela. O espaço era apertado, claustrofóbico. Madeira fria ao redor. Um caixão. Ela tentou se mover, mas o corpo estava rigido, dormente. Com esforço, virou a cabeça para o lado. Seus olhos antes azuis agora estavam negros como a própria noite, refletindo um vazio profundo e desconhecido. E lá estava ele. Viktor Morvane. Sentado em uma cadeira simples, com o rosto enterrado nas mãos, o corpo tenso e rígido. Ele ergueu o olhar lentamente, seus olhos cinzentos encontrando os dela com uma intensidade feroz. Não havia surpresa, apenas uma dor crua e uma fúria contida. Ele se levantou, aproximando-se do caixão sem dizer uma palavra. O silêncio entre eles era ensurdecedor, cheio de tudo o que nunca foi dito. Ele a observou por um longo momento, os olhos vazios, mas carregados de algo que Jade não conseguia entender. Então, ele falou: "Eles vão pagar por tudo. Todos eles." Sem esperar por uma resposta, ele se virou e saiu, a porta se fechando com um estrondo atrás dele, deixando Jade sozinha, envolta pelo cheiro levemente amadeirado e sangue seco. Confusão. Raiva. Dor. Um novo fogo queimando dentro dela. Ela não estava morta. E, de alguma forma, isso era só o começo.Viktor entrou no quarto de Jade sem cerimônias, como de costume. Ela estava sentada na cama, folheando um livro que nem sabia do que se tratava. Desde que se tornara vampira, sua concentração estava completamente comprometida. Mas, ao ver Viktor ali, parou o que fazia e ergueu o olhar."Arrume suas coisas. Viajamos ao amanhecer."Ela piscou, confusa. "O quê? Pra onde?""Vamos para uma cidade do interior. Precisamos de aliados, e conheço alguém que pode nos ajudar." Viktor se apoiou no batente da porta, cruzando os braços. "E você vem junto."O tom dele não deixava espaço para discussão, mas Jade não pretendia reclamar. Era sua chance de sair daquela mansão sufocante. Desde que se tornara vampira, seu mundo se resumia àqueles muros. Não era como se estivesse presa, mas sentia como se estivesse."Ótimo! Já estava na hora." Ela sorriu, fechando o livro e se levantando. "Mas por que agora? O que mudou?"O rosto de Viktor ficou mais sério. "Alfie encontrou rastros de alguém rondando a mans
A revelação que Viktor fizera a devastou de uma maneira que Jade não conseguia compreender totalmente. Helena, uma vampira... Ela piscou, tentando encaixar essa nova peça no quebra-cabeça que se tornava cada vez mais confuso. A revelação não fazia sentido. Helena, sempre tão tranquila, tão humana em sua aparência e maneiras, agora era vista sob uma luz completamente diferente. Jade sentiu um frio percorrer sua espinha enquanto revivia mentalmente cada interação que tivera com Helena. Aqueles olhos que brilhavam sob a luz fraca da lua, a postura impecável, quase etérea, e a aura de mistério que sempre a envolvera — tudo isso agora fazia sentido. Mas, ao mesmo tempo, nada fazia.O silêncio que se seguiu ao confronto parecia eterno. Jade estava paralisada, tentando processar tudo o que Viktor havia dito, mas as palavras dele reverberavam em sua mente como um eco distante. Ela não sabia o que pensar, nem por onde começar. O quarto onde estavam parecia sufocante, as paredes se fechando ao
Jade mantinha o sorriso nos lábios, tentando esconder o turbilhão de pensamentos que a assolava. Viktor a observava com aquela expressão predatória, os olhos fixos nela, mas com algo mais… uma tensão que ele não tentava esconder. Ela podia sentir, em cada fibra de seu ser, o peso da descoberta da noite anterior. A carta que ela havia encontrado queimava no bolso de sua calça, e com ela, as dúvidas se multiplicavam. “Que bom saber que sua manhã foi agradável”, disse Viktor, sua voz baixa e controlada, mas com algo que Jade não conseguiu identificar completamente. Ele fechou a porta atrás de si com um cuidado quase excessivo, e o som do trinco se assemelhou ao estalo de uma armadilha. Ele se aproximou, a postura relaxada, mas seus olhos eram os de um caçador em espera. “Você parece… diferente.” Jade inclinou levemente a cabeça, os olhos observando-o com a mesma intensidade. “De maneira boa ou ruim?” “Intrigante”, respondeu Viktor, dando um passo à frente, quase como se a estudasse em
Jade acordou com uma sensação que não experimentava há tempos. Seu corpo estava leve, sem o peso constante da exaustão que costumava acompanhá-la desde sua transformação. Cada músculo parecia revigorado, cada célula pulsava com uma vitalidade que a surpreendia. Ela abriu os olhos devagar, piscando diante da claridade suave que atravessava a fresta da cortina pesada. O teto de madeira esculpida acima de si parecia mais nítido, mais detalhado, como se sua percepção tivesse sido aguçada durante o sono.Movida por um ímpeto desconhecido, Jade sentou-se na cama. Nenhum vestígio de cansaço, nenhuma dor. O corpo, antes rígido e tenso, reagia agora com uma elasticidade quase desconhecida. Ela passou as mãos pelos próprios braços, sentindo a pele fria, mas estranhamente saudável. Uma onda de bem-estar percorreu sua espinha.Levantando-se, caminhou descalça pelo chão de madeira polida até as cortinas. O toque do tecido aveludado era quase reconfortante sob os dedos. Segurou as extremidades e, c
Os dias se arrastaram desde que Jade encontrou aquela maldita carta vermelha. A raiva queimava em seu peito como brasas incandescentes, sufocando qualquer tentativa de raciocínio lógico. Ela sabia que Viktor não tinha culpa por amar outra pessoa, sabia que não deveria se importar. Mas o nó na garganta não desaparecia, e cada batida de seu coração ecoava a humilhação de descobrir que, por todo esse tempo, ela fora apenas uma peça descartável em um jogo que não entendia completamente.Por isso, se trancou no quarto.Ignorou cada batida na porta, cada tentativa de Viktor de se aproximar. Ele insistiu nos primeiros dias, chamando-a com uma paciência quase exasperante. Mas, eventualmente, o silêncio se instalou entre eles como um abismo intransponível. Quando ele parou de chamá-la, Jade percebeu que sua ausência deixava um vazio que não deveria existir.A única voz que permitiu cruzar aquela barreira foi a de Alfie, o servo de Viktor que lhe salvou do lago congelante.Ele vinha todas as no
Viktor riu baixo, um som rouco, carregado de algo indecifrável, enquanto seus dedos longos deslizavam suavemente pela mão de Jade, que ainda repousava ao redor de seu corpo. Seus olhos estreitaram levemente antes que ele a soltasse com um gesto quase preguiçoso, como se não quisesse afastá-la, mas também não pudesse mantê-la ali.Então, ele se virou para encará-la de frente, seu sorriso singelo tentando mascarar qualquer resquício de peso na conversa."Você se preocupa demais."Jade observou o rosto dele com atenção, notando os detalhes que normalmente ignoraria. O brilho sutil nos olhos âmbar, a forma como seu maxilar se contraía levemente quando ele tentava esconder algo. Ele era um homem que carregava segredos, disso ela já sabia. Mas havia algo mais profundo ali, algo que ele não queria que ninguém enxergasse.Ela fingiu não perceber sua tentativa de disfarçar. Permitiu que ele a guiasse de volta ao sofá, onde se sentou ao lado dele, o calor de seus corpos quase se tocando.Por um
Último capítulo