Maria sempre foi invisível dentro da própria casa. Casada com um homem cruel e madrasta de dois adolescentes ingratos, sua vida era feita de humilhações, sacrifícios e silêncio. Mas tudo muda no dia em que, exausta após mais uma jornada de desprezo, ela embarca em um ônibus de volta para casa... e nunca chega ao destino. Após o acidente, Maria é encontrada ferida e desacordada à beira de um lago. É então que Alexandre Fonseca, um fazendeiro solitário e marcado pelo passado, a encontra e a leva para sua casa. Sem saber quem ela é, apenas com o desejo de ajudá-la, ele abre as portas de sua casa e do seu coração. Entre as marcas de um passado cruel e a incerteza do futuro, Maria precisará encarar seus próprios fantasmas. Em meio à dor, surge a chance de ser vista, de ser amada. Terá ela força para romper as correntes que a aprisionaram por tantos anos e ser livre?
Ler maisCapítulo 49Adalberto ficou alguns dias na fazenda do irmão para descansar, matar a saudade e colocar a conversa em dia. Os dois riam das lembranças da infância, andavam a cavalo juntos pelas trilhas que conheciam de cor e ajudavam Maria com pequenas tarefas, mesmo que ela insistisse que estava tudo sob controle.Em uma manhã ensolarada, enquanto o cheiro de pão de queijo e café fresco saía da cozinha, Maria viu um carro se aproximando pela estrada de terra. Sorriu ao reconhecer Beatriz descendo do banco do carona com a pequena Marisa nos braços. Leonardo desceu do lado do motorista e Fábio, o irmão dela, veio logo atrás, com uma sacola de presentes.Maria foi até a porteira recebê-los com o coração apertado e feliz ao mesmo tempo.— Olha quem chegou! — disse, abrindo os braços para abraçar Beatriz.— Me perdoa por não ter ido ao hospital — disse Beatriz com os olhos marejados. — Foi tudo tão rápido… o falecimento do papai, o enterro… muita coisa ao mesmo tempo.— Eu entendo — respond
Capítulo 48Após o enterro, todos voltaram para casa. O clima era de silêncio, de digestão lenta de tudo o que havia acontecido, da perda, das memórias, das sombras do passado que teimavam em não desaparecer. Leonardo, no entanto, carregava um peso maior. Sabia que não era o momento ideal… mas como guardar por mais tempo o que acabara de descobrir?Beatriz deu banho na pequena Marisa com carinho, cantarolando baixinho, tentando afastar a dor do dia. Depois, a amamentou, com Leonardo ao lado, ajudando no que fosse preciso. Quando a bebê finalmente adormeceu, envolta em um cobertorzinho rosa claro, Leonardo beijou a testa da filha e olhou para a esposa.— Amor… — chamou com voz baixa. — Podemos conversar um pouco?Beatriz assentiu, desconfiada.— Claro. Vamos à sala.Foram juntos, caminhando lentamente. Na sala, Fábio estava jogado no sofá, olhos fixos na televisão, mas claramente distante, absorvido em seus próprios pensamentos. Não parecia prestar atenção em nada ao redor.Leonardo se
Capítulo 47O monitor cardíaco apitava com lentidão, marcando o compasso frágil da vida que escapava. No quarto silencioso e sombrio, a respiração de Geraldo era mantida por aparelhos. O médico-chefe havia acabado de sair após uma reunião com a equipe.- Não passa dessa noite - comentou um dos residentes, com voz grave, ao lado da porta. - O corpo está entrando em falência múltipla.Lá dentro, dois enfermeiros ajustavam a medicação com cuidado.- E pensar que esse aí era valentão - disse um deles, baixinho. - Bateu na esposa, viveu como quis... e agora, está morrendo.- A vida cobra - respondeu o outro, conferindo os sinais vitais. - E às vezes, cobra caro.Os corredores do hospital estavam vazios naquela madrugada, se escutavam apenas os sons distantes das máquinas e passos apressados. No quarto 312, o tempo parecia ter parado.O monitor cardíaco de Geraldo começou a desacelerar. Os bipes ritmados se tornaram espaçados, hesitantes... até que um último som agudo e contínuo invadiu o a
Capítulo 46A porta da casa se abriu com força, batendo contra a parede. Leonardo entrou ofegante, o peito subindo e descendo com rapidez. Os cabelos bagunçados, a camisa meio aberta e o olhar desesperado denunciavam o quanto correu.— Ela nasceu? — perguntou ainda sem fôlego, vasculhando o ambiente com os olhos até encontrar Maria ao lado da cama e, logo atrás dela, Beatriz segurando o bebê.Beatriz sorriu emocionada ao vê-lo.— Leonardo…Ele se aproximou apressado, mas hesitou ao ver o pacotinho em seus braços. Seus olhos marejaram. Com cuidado, se abaixou diante das duas.— Posso? — perguntou com voz embargada.Beatriz assentiu e, com carinho, colocou a pequena Marisa nos braços do pai. Leonardo a segurou como se carregasse o próprio coração fora do peito.— Meu Deus… Ela é tão pequena… tão perfeita — sussurrou, as lágrimas caindo sem controle. — Vocês são minha vida.Maria se afastou discretamente, deixando o momento para os dois. Alexandre a aguardava na porta, sorrindo.Ela se a
Capítulo 45Com Geraldo em coma, o hospital foi obrigado a comunicar oficialmente a situação à Justiça, já que ele estava sob custódia. A promotoria recebeu o relatório médico completo, incluindo os laudos que apontavam a deterioração da saúde dele e as circunstâncias do espancamento na prisão. Imediatamente, um novo inquérito foi aberto para apurar se houve falha na segurança penitenciária, mas o foco principal continuava sendo os crimes que ele havia cometido antes de ser preso.O promotor responsável pelo caso de Maria foi claro:— Mesmo em coma, o processo continua. Se ele acordar, terá que responder por todos os crimes. Se não acordar, encerramos com base no estado de saúde permanente, mas não antes de garantir os direitos da vítima.Maria foi notificada da situação por seu advogado, que apresentou as informações.— Você pode ficar tranquila, Maria. O que dependia da Justiça já foi feito. Ele já pagou parte do preço e, mesmo inconsciente, a lei está cumprindo o seu papel.Ela ouv
Capítulo 44O sol iluminava os campos dourados ao redor da fazenda. O som dos pássaros se misturava ao riso das pessoas reunidas no gramado decorado com flores do campo, fitas de renda e cadeiras de madeira rústica. O altar, sob uma árvore frondosa, estava enfeitado com heras e girassóis, simbolizando luz, força e recomeço.Maria surgiu por entre as árvores, deslumbrante em um vestido branco simples e cheio de encanto. Seus cabelos estavam presos de forma delicada com pequenas flores, e o véu curto balançava levemente com a brisa. Ela caminhava devagar, emocionada, com os olhos marejados e um sorriso doce, olhando para Alexandre no altar, que a esperava com o coração disparado e o olhar brilhando de amor.Ao redor, estavam todos os que se importavam com ela. Tia Augusta, que havia retornado da cidade só para aquele momento especial, enxugava as lágrimas com um lenço. Beatriz e Fábio observavam admirados, comovidos por fazerem parte de algo tão bonito. Leonardo, orgulhoso, registrava c
Capítulo 43No dia seguinte, logo cedo, a casa estava em movimento. Tia Augusta chegou com um sorriso largo, carregando uma sacola cheia de tecidos, amostras de rendas e um caderno repleto de anotações. Afinal, Alexandre já havia dito suas intenções por telefone e se adiantou ao passar pela cidade com Hugo.— Se é pra casar, vai ser com classe! — disse, entrando animada. — Nada de vestido alugado. Vamos fazer um sob medida, como manda o figurino!Maria riu, abraçando a tia com ternura. Sentia-se leve, como há muito tempo não se sentia. Alexandre a observava da porta, os braços cruzados e o coração cheio de orgulho. Nunca pensou que encontraria tanta paz em meio ao campo... muito menos ao lado de alguém que havia sofrido tanto e, mesmo assim, era capaz de amar de novo.Beatriz e Fábio também chegaram à fazenda naquela manhã de surpresa, oferecendo ajuda no que fosse preciso. Beatriz quis cuidar dos convites. Fábio se ofereceu para resolver tudo referente as flores. Leonardo ficou de pr
Capítulo 42O burburinho no fórum ainda não havia cessado quando o advogado de Maria retornou apressado à sala de espera, trazendo consigo um oficial da Justiça após o ocorrido recente.— O vídeo foi entregue ao juiz e encaminhado ao Ministério Público. A agressão cometida por Geraldo vai além do que tratamos na audiência. Há uma nova ordem expedida — disse, com seriedade.Maria, ainda sentada, ergueu os olhos com calma. Alexandre, ao seu lado, apertou sua mão. Ela respirou fundo, mantendo a serenidade que carregou durante todo o processo.Do lado de fora, Geraldo andava de um lado para o outro, bufando palavrões, amaldiçoando a ex-mulher e o sistema. Foi então que dois policiais se aproximaram.— Senhor Geraldo Ferreira? — perguntou um deles.— Que é? — rosnou, irritado.— O senhor está preso por descumprir uma medida judicial e pelo crime de agressão. O vídeo da sua conduta foi registrado e encaminhado à autoridade competente.— Isso é um absurdo! Eu sou o homem traído aqui! — esbra
Capítulo 41Os dias que antecediam a audiência corriam como páginas viradas com pressa. A cada manhã, Maria acordava com a mente dividida entre o futuro que florescia dentro dela e o passado que, finalmente, seria enfrentado diante do juiz.Alexandre estava mais presente do que nunca. Apoiava cada passo, revisava documentos com o advogado, cuidava dos detalhes jurídicos para que ela pudesse descansar e focar na gestação.— Tudo vai correr bem — disse ele, certo dia, segurando suas mãos sobre a mesa do café da manhã. — Eles já sabem quem é o verdadeiro agressor. Os filhos dele estão do seu lado. Você não está mais sozinha.Maria sorriu, mas havia um aperto no peito difícil de ignorar. Não era medo do tribunal, era o peso de tudo que havia vivido sendo, enfim, exposto à luz do dia.Elza e tia Augusta ajudavam nos preparativos do enxoval. Era como se todos ali quisessem mostrar a ela que a família agora era outra. Uma família de verdade.E enquanto os papéis eram organizados, os depoimen