Holanda, Caribe, Inglaterra, França... A animada comissária de bordo Blair Ozkan estava acostumada a uma vida agitada, com direito a aventuras e muitos destinos exuberantes. Ela estava vivendo o próprio sonho quando um acidente com um copo de café verde colocou o comandante Voitovich em sua vida, dando uma nova perspectiva ao seu mundo. Dimitri é um atraente e divertido russo que não estava disposto a desperdiçar nenhuma oportunidade que a vida lhe concedesse, inclusive aquela que colocou a linda comissária em seu caminho. Entre os encontros e desencontros de suas rotinas, uma bela amizade surge, e contra tudo o que eles acreditavam, o sentimento começa a evoluir para algo mais, confrontando uma convicção que ambos tinham em comum: relacionamentos a distância não funcionam. Será que meio a complexas escalas e diversos destinos é possível viver um amor?
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O despertador soou, me fazendo revirar pela cama ainda envolta pela escuridão da noite. Eu respirei fundo antes de buscar o celular em cima da mesa de cabeceira.
Duas da manhã.
Eu acendi o abajur, levantando em seguida. Eu não tinha tempo a perder, em pouco mais de uma hora eu deveria me reunir com a equipe de bordo que me acompanharia naquele voo.
Fui direto para o banheiro, colocando a áudio-aula para tocar enquanto eu tomava banho.
— Excusez-moi, je dois vous laissez — eu repeti logo após a voz mecânica que vinha do celular.
Onde eu estava com a cabeça quando decidi aprender francês sozinha? Eu podia pagar um professor.
Após alguns minutos permitindo que a água quente percorresse todo o meu corpo, saí e comecei a dedicar meu tempo à tarefa que sempre exigia atenção.
Eram tantos detalhes que eu tinha que me atentar para alcançar a perfeição que minha profissão exigia.
— Vous pourriez me donner votre numéro téléphone... — eu repeti enquanto escovava os cabelos, me preparando para prendê-los no coque baixo que eu usava de duas a três vezes por semana.
A campainha soou, fazendo com que eu descesse a escada que me levaria à sala do pequeno loft que comprei há alguns meses. Eu não estava nem um pouco surpresa por conta da visita no meio da madrugada, na verdade, antes mesmo de chegar à porta eu sabia de quem se tratava.
Apesar do horário incomum, Abigail estava perfeitamente arrumada com os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, e um conjunto de moletom preto.
— Bonjour — eu cumprimentei minha amiga assim que abri a porta, dando espaço para que ela entrasse.
— Eu preferia quando era atendida em turco — ela zombou, atravessando em poucos passos minha pequena cozinha, indo até a sala enquanto eu fechava a porta.
— Não é cedo pra você? — eu cruzei os braços, me encostando na bancada.
— Noah entrou agora na torre de controle — ela explicou — eu trouxe seu café da manhã e algo pra você levar pra ele.
Eu revirei os olhos, voltando a subir para o quarto no mezanino, eu precisava terminar de me arrumar para mais um vôo.
Abby era minha vizinha e amiga mais antiga. Seu namorado, em breve noivo, trabalhava no mesmo aeroporto em que ficava minha base. Noah Mitchell era controlador de voo e ela constantemente me procurava para enviar algo para o rapaz.
— Para onde você vai dessa vez? — ela se sentou em minha cama enquanto eu separava meu estojo de maquiagem, parando de frente para o grande espelho.
— Istambul — eu declarei sem cerimônias.
— Mesmo? E você vai vê-los?
— Claro, não vou passar três dias em um hotel se posso ficar na casa dos meus pais — eu dei de ombros enquanto trabalhava no delineador.
— Três dias? Blair, na sexta...
— Eu vou chegar a tempo, Abby — eu garanti — devo pousar no máximo às cinco, e seu jantar de noivado será às oito.
Ela me encarou com uma expressão desconfiada enquanto eu terminava com a maquiagem.
— Você precisa estar presente — ela enfatizou — por favor.
— E estarei, mesmo que seja para ver você dar o primeiro passo para se unir com seu tão sonhado encosto — eu pisquei para ela antes de ir até a sapateira, separando o par de scarpins vermelhos que, junto com o tailleur preto, compunham parte do meu uniforme de trabalho.
Abby reclamava de minha implicância com seu futuro marido, mas o que eu poderia fazer?
A implicância era mútua e era mais forte que nós dois. Não significa que eu não goste dele, ou o considere inadequado para minha amiga. Na verdade eles formam o casal perfeito.
— Aqui, eu fiz cookies para vocês — ela me entregou dois sacos de papel enquanto eu conduzia minha mala de rodinhas até a porta da frente.
— É bom ele estar em pausa, ou eu vou comer os dele também — eu avisei, saindo para o corredor após verificar se não tinha esquecido nada.
— Você pode comprar uma bebida para acompanhar os cookies? — ela implorou.
Eu a encarei com uma expressão séria.
Ela só podia estar enlouquecendo se pensa que vou gastar um minuto sequer na fila da cafeteria. Por que ele não cuida da própria bebida?
— Abby...
— Por favor — ela fez um biquinho enquanto me encarava com aqueles grandes olhos cor de jade — eu te dou o dinheiro, eu só quero fazer uma surpresa pra ele.
Eu suspirei antes de checar o horário. Eu não tinha tempo para discussões sem sentido.
— Eu vou comprar a bebida mais esquisita que tiver na cafeteria — eu avisei.
Eu voltei a ouvir minha aula durante o caminho, murmurando algumas frases desconexas, recebendo olhares desconfiados do motorista do táxi através do retrovisor.
Já no aeroporto eu caminhei confiante até a cafeteria. Eu adorava a forma como eu me sentia quando estava dentro daquele uniforme, o tailleur preto contornava perfeitamente meu corpo, a saia ia até a curva de meu joelho, nenhum centímetro a mais ou a menos, um lenço vermelho adornava meu pescoço enquanto a boina repousava em um ângulo próprio em minha cabeça.
Eu sabia que estava chamando atenção e adorava aquela sensação.
— Pra onde você vai hoje? — Alisson Green, uma das funcionárias do aeroporto, passou a caminhar ao meu lado.
— Turquia.
— Isso é tão injusto — ela gemeu — você tem uma vida incrível, e se eu fosse um pouco mais alta poderia ter também.
O sonho de Alisson era se tornar uma comissária de bordo, mas seus exatos 1,52 centímetros de altura não permitiam que ela seguisse adiante na profissão. Ela então se contentava em cuidar do embarque dos passageiros.
Nós duas paramos na cafeteria, observando o menu por algum tempo enquanto eu tentava decidir o que pedir.
— Eu vou querer um cinnamon latte e você, Blair?
— Um matcha latte — eu decidi, recebendo um olhar surpreso da garota.
— Matcha?
— Abby pediu para que eu comprasse algo para o Mitchell, decidi que ele quer experimentar algo novo — eu pisquei para ela.
Não demorou muito até que eu apanhasse o copo de papel com a bebida fumegante e seguisse até a área restrita, onde eu caminhei apressada ao lado de Alisson. Era bom ele estar esperando quando chegasse à sala de briefing indicada para a reunião da tripulação.
— Eu espero que tenha alguém conhecido na tripulação dessa vez — comentei com Alisson, caminhando cada vez mais depressa com medo de me atrasar.
— Deve ser estranho passar tanto tempo com quem você não conhece — ela comentou enquanto percorríamos os corredores juntas.
— Bom, em um vôo de 16 horas nós acabamos nos conhecendo — eu dei de ombros — mas seria melhor se tivesse um rosto conhecido ali.
Foi quando eu senti um impacto contra meu corpo, o conteúdo do copo foi totalmente perdido, mas para minha sorte, meu uniforme não sofreu nenhum dano.
— Mas que merda, por que não olha por onde anda? — eu murmurei, checando se estava tudo certo com minha roupa, enquanto Alisson permanecia petrificada ao meu lado.
— Desculpe, mas até onde eu sei, você esbarrou em mim — uma voz grossa, com um leve sotaque russo fez com que eu erguesse o rosto.
Eu pisquei atordoada ao ver a camisa branca que o homem usava por baixo do paletó preto completamente manchada de verde. Meu olhar seguiu direto para a manga de seu paletó, onde quatro faixas douradas adoravam a peça.
Não não não. Me diz que eu não derrubei Matcha no uniforme de um Comandante!
Alisson estava sem reação, provavelmente por saber que minha cabeça estava prestes a rolar.
— Eu sinto muito — eu me apressei em dizer — eu não te vi.
— Não...
— De verdade, eu devo ter um lenço em algum lugar — eu balancei a cabeça em negação antes de começar a revirar minha bolsa.
— Eu tenho um guardanapo — Alisson me ofereceu.
Eu o apanhei, o levando até a camisa ensopada do homem antes mesmo que ele tivesse alguma reação.
Ergui meu rosto para olhar o dele, que parecia muito divertido com a situação, apesar de todo o meu constrangimento e preocupação.
Seus olhos castanhos me observavam com uma expressão curiosa, fazendo com que eu me desorientasse por um momento.
Puta merda, eu não podia ter derrubado café em alguém menos bonito!?
Seus cabelos castanhos estavam cuidadosamente penteados sob o quepe, seu rosto era uma mistura de traços que beirava a perfeição, e sua barba bem cuidada aumentava ainda mais o seu charme.
Isso fez com que eu percebesse que em meio a minha contemplação, eu estava esfregando seu paletó com o maldito guardanapo de Alisson. Ele parece ter notado o mesmo, já que segurou meu pulso, me impedindo de continuar.
— Eu sinto muito — Eu repeti me sentindo mortificada por toda a situação — eu espero que você não tenha que voar agora.
— Não se preocupe, eu acabei de pousar — ele explicou, afastando minha mão de seu corpo.
Um alívio tomou conta de mim ao receber aquela informação. Ótimo ele pode mandar lavar o uniforme, o desastre não é completo!
— Blair, aí está você. Abby disse que você trouxe algo para mim — Noah se aproximou, atraindo nossa atenção.
— Se o Latte foi a única coisa que ela trouxe, está todo no uniforme dele — Alisson apontou para o piloto, que continuava parado a poucos centímetros de mim.
Noah arregalou os olhos, notando a situação que eu tinha me metido. Ele me lançou um olhar divertido diante do meu constrangimento. Antes que pudesse se manifestar, eu decidi tomar uma atitude para encerrar aquilo de vez.
— Aqui — eu estendi o saco de papel com os cookies para o comandante — um pedido de desculpas.
— Está tudo bem, de verdade — ele voltou a garantir, apesar de aceitar o embrulho.
— Se ela está oferecendo, é melhor você aceitar — Noah avisou — você tem sorte de ela não estar jogando toda a culpa pra cima de você.
Ótimo, não preciso me arrepender nem um pouco de ter dado os cookies dele ao invés dos meus!
— Eu não faria isso, a culpa foi minha — eu garanti.
— Você deveria fazer ela arcar com a conta da lavanderia também — Noah sugeriu.
— Não será necessário...
— Eu posso fazer isso, Mitchell — eu murmurei antes de me virar para o homem — você pode me mandar a conta da lavanderia, é o mínimo que eu posso fazer.
Ele se limitou a exibir um meio sorriso que me fez perder o fôlego. Atingida mais uma vez por sua beleza, eu lamentei estar prestes a embarcar para outro continente enquanto ele ficaria aqui.
— Então, onde está o pacote que a Abby me enviou, Blair? — Noah me trouxe de volta a realidade.
Em um movimento rápido eu cheguei a hora em meu relógio de pulso.
— Eu preciso ir, já estou atrasada para a reunião da tripulação — eu me apressei em dizer, antes de começar a me afastar, recebendo um olhar divertido de Alisson que já tinha compreendido o que eu tinha feito.
— Blair? Espera, onde você vai?— ele me chamou enquanto eu me afastava — Blair?
Eu me virei uma última vez acenando discretamente para o homem misterioso que deixei para trás sem sequer perguntar seu nome.
Será que um dia eu voltaria a encontrá-lo?
Já era o fim da tarde quando minha mãe empurrou a cadeira de rodas que ela insistiu em alugar para que eu não fizesse esforços desnecessários. Eu obviamente pretendia devolver aquilo o mais depressa possível, mas na pressa de deixar logo o hospital para trás, eu aceitei tudo o que ela propôs sem discutir.Era tão bom estar em casa. Eu observei as paredes do elevador, ansiando que ele subisse mais depressa, tudo o que eu queria era entrar no meu apartamento e encontrar Blair! — Dá pra perceber a sua ansiedade, você pode se controlar um pouco, ela não vai fugir — Masha zombou.Ela tinha acompanhado minha mãe enquanto Blair continuava no apartamento arrumando sua mudança enquanto esperava pela minha chegada.— Calada — eu murmurei em meio a um sorriso enquanto tamborilava os dedos na perna.— Não pegue no pé do seu irmão, ele está ansioso para ver a nova decoração do apartamento dele — minha mãe zombou.Eu franzi o cenho, levantando meu rosto para encarar as duas. Que história é essa de
DimitriJá era o nono dia desde o acidente e eu me recuperava cada vez mais. Não via a hora de Blair vir me visitar, ela tinha pousado pela manhã e eu ansiava por sua presença. Eu não aguentava mais viver longe dela, antes eu estava disposto a esperar o tempo que fosse e suportar aquela rotina insana do início do nosso relacionamento, mas após minha experiência de quase morte, a distância não era mais uma opção para mim.E, para minha sorte, ela pensava o mesmo.Tanto havia mudado em tão pouco tempo. Caminhei até a janela, observando o movimento do lado de fora do hospital. Parecia que fazia uma eternidade desde que estive fora daquelas paredes, eu sequer me lembrava a sensação. Passei alguns minutos parado ali, perdido em meus pensamentos quando uma batida na porta chamou minha atenção. Minha surpresa foi completa ao ver quem entrou no quarto.— Olga…Sua visita não era uma surpresa exatamente desagradável, nós dois conseguimos encontrar um meio termo em nossa convivência nos últim
BlairEu cheguei em meu loft em Newark no início da noite seguinte, me sentindo exausta por conta do jet lag, mas me esforcei para me manter acordada pelas próximas horas. Eu tinha muito o que fazer antes que pudesse me mudar.Após pedir meu jantar em um restaurante indiano da região, peguei duas malas no meu closet e comecei a guardar algumas roupas e sapatos. Amanhã eu teria que comprar um pouco de plástico bolha para embalar os enfeites que eu levaria para meu novo lar.Meu novo lar. Como as coisas mudaram em tão pouco tempo? Já faz quase um mês desde que recebi a ligação sobre meus pais e deixei meu apartamento, naquele dia eu sequer imaginaria que voltaria para casa apenas para embalar tudo.Eu consegui encher uma mala inteira antes que o cansaço me vencesse, adormeci em meio a uma pilha de roupas em cima da cama, despertando apenas na manhã seguinte com o toque do meu celular. — Bom dia, comandante — eu o cumprimentei em meio a um bocejo.— Nem preciso perguntar se você dormiu
BlairBati na porta do quarto de Dimitri antes de abri-la, encontrando meu noivo sentado na cama, entretido com um celular. Eu entrei, arrastando as duas malas que eu carregava atrás de mim, atraindo sua atenção.— Blair, eu pensei que você não viria mais — ele sorriu, colocando o aparelho em cima da mesa de cabeceira ao lado da cama, onde a caixa estava.Já passavam das três da tarde, eu tinha decidido dar um pouco de espaço para a família dele aproveitar sua companhia, e também tinha muito a fazer.Eu deixei as malas no canto, indo até a cama, lhe dando um rápido beijo antes de me afastar.— Desculpe a demora, eu estava arrumando o seu apartamento e tentando encontrar um lugar para colocar as minhas coisas — eu expliquei.— E pelas malas eu devo presumir que você criou um espaço me despejando? Não pude evitar sorrir diante da conclusão, se ele está disposto a fazer piadas, quer dizer que está melhor do que quando o deixei ontem após contar detalhes do acidente.— Essa seria uma boa
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Blair Eu consegui um belo copo de café na cafeteria do hospital antes de ir para o quarto de Dimitri, me arrependendo imediatamente ao primeiro gole. Aquilo era a pior coisa que eu já tinha bebido naquele país! Bom, talvez a segunda pior coisa, eu pensei ao me lembrar do Kompot.Eu joguei o copo quase intocado no lixo antes de ir para o quarto para onde a enfermeira disse que levaria Dimitri, encontrando sua família inteira lá. Antes que eu pudesse cumprimentá-los, Masha me puxou para um canto.— Você falou com ele? — ela murmurou.— Sim, já resolvi tudo.Noiva! Eu não acredito que estou noiva!— E como vamos contar para meus pais?— Não vamos. Decidimos manter a história — eu dei de ombros.— Manter? Como assim manter? — Eu explico depois — eu a cortei ao ver a enfermeira empurrando a maca de Dimitri pelo corredor.Entrei no quarto e cumprimentei meus sogros, que pareciam prestes a me banhar com seu entusiasmo, mas a chegada do filho acabou ofuscando um pouco a situação.Eu me enc
Último capítulo