O domingo amanheceu com o som da chuva fina batendo nos vidros da sala.
Clara acordou antes do despertador.
Ficou alguns minutos deitada, observando Noah dormir com o braço jogado para fora do cobertor e os cabelos bagunçados.
Ele ainda usava o moletom cinza.
O da faculdade de medicina.
O que dizia “neuro” nas costas e “meu” nas entrelinhas.
Ela se levantou devagar, pegou o caderno e foi pra cozinha.
Fez chá de hibisco.
Torradas com azeite e flor de sal.
E escreveu.
“A pausa virou casa.
E, dentro dela, o tempo respira melhor.”
Quando Noah acordou, encontrou o bilhete ao lado da caneca fumegante.
Sorriu.
Dobrou com cuidado.
E colocou na pilha que agora morava na gaveta da escrivaninha.
O neurologista havia sido claro: os exames não apontavam degeneração.
Era estafa neurológica.
Sobreposição de estresse prolongado, privação de sono e esforço emocional não processado.
Ele precisaria parar.
Mas não abandonar.
“Seu cérebro é um bisturi afiado”, dissera o especialista.
“Só precisa ser afiad