Capítulo 35

Clara acordou antes da luz.

A casa ainda dormia, e lá fora o céu estava num tom de cinza que precede o azul.

Desceu devagar até o escritório, onde ficava seu ateliê improvisado. A madeira do chão estalou sob seus pés descalços, mas ela não se importou. Precisava de silêncio.

Precisava escrever.

Sentou-se diante da mesa.

Respirou fundo.

E puxou o caderno novo que havia ganhado de Sol no início da semana.

Na primeira página, em letras miúdas, Sol havia escrito:

"Que esse papel te acolha.

E que ele nunca cobre o que você não pode dar."

Clara sorriu.

A letra da irmã sempre foi mais segura que a dela.

Virou a página.

E começou.

Noah,

Eu ainda não sei se posso te chamar assim.

Mas o nome mora na minha boca com uma naturalidade que me assusta menos a cada dia.

Ontem, quando você foi embora, fiquei olhando o papel vegetal com nossos bilhetes antigos por quase uma hora.

Li cada frase.

Em algumas, senti como se tivesse escrito naquele mesmo dia. Em outras, fui apenas espectadora — mas de algo q
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