Clara acordou antes da luz.
A casa ainda dormia, e lá fora o céu estava num tom de cinza que precede o azul.
Desceu devagar até o escritório, onde ficava seu ateliê improvisado. A madeira do chão estalou sob seus pés descalços, mas ela não se importou. Precisava de silêncio.
Precisava escrever.
Sentou-se diante da mesa.
Respirou fundo.
E puxou o caderno novo que havia ganhado de Sol no início da semana.
Na primeira página, em letras miúdas, Sol havia escrito:
"Que esse papel te acolha.
E que ele nunca cobre o que você não pode dar."
Clara sorriu.
A letra da irmã sempre foi mais segura que a dela.
Virou a página.
E começou.
Noah,
Eu ainda não sei se posso te chamar assim.
Mas o nome mora na minha boca com uma naturalidade que me assusta menos a cada dia.
Ontem, quando você foi embora, fiquei olhando o papel vegetal com nossos bilhetes antigos por quase uma hora.
Li cada frase.
Em algumas, senti como se tivesse escrito naquele mesmo dia. Em outras, fui apenas espectadora — mas de algo q