Clara acordou com o som de um passarinho na janela.
Era um canto repetitivo, mas não incômodo. Quase parecia que o bicho estava ensaiando uma música que ela já tinha ouvido em algum lugar.
Vestiu um moletom de algodão claro e desceu descalça até o ateliê improvisado.
Na cozinha, ouviu Sol dizendo que sairia com André até o centro da cidade.
Ela respondeu com um aceno distraído.
Hoje queria silêncio.
Sobre a mesa, duas telas secando.
A da espiral, com camadas sobrepostas e fragmentos de palavras quase invisíveis.
E outra, ainda inacabada, com uma composição de janelas abertas.
Era essa que ela queria terminar.
Pegou os pincéis. Ajustou a cadeira. Ligou uma playlist instrumental e deixou o sol entrar.
Às dez e quinze da manhã, Clara pintava.
Na tela, quatro janelas lado a lado.
Cada uma revelava uma cena diferente.
Uma com um copo de café pela metade.
Outra com um livro aberto, como se alguém tivesse se levantado no meio da leitura.
A terceira mostrava uma planta crescendo sobre uma pil