CAPÍTULO 07

O baque daquela proposta me atingiu com força. Emprego? Lembrei de que ela havia mencionado isso mais cedo, e me olhava em expectativa. Eu pisquei, tentando organizar o turbilhão dentro da minha cabeça. Ela queria apenas o trabalho e o nosso laço?

— Espera… “por um tempo”? — repeti, minha voz saindo mais grave do que o normal. — Você... pretende ir embora? — perguntei, ainda mais confuso.

Ela deu de ombros, como se não fosse nada demais.

— Ainda não sei. Não planejei nada muito a fundo, mas gostei daqui… queria poder aproveitar um pouco o lugar.

“Ela é nossa” — meu lobo rosnou mais uma vez, em protesto. Ele não estava satisfeito com a resposta dela.

Como convencer alguém a ficar... quando nem você mesmo tem tanta certeza de que é isso que deseja? Eu não fazia ideia do que responder. O passado gritava, e o luto ainda era uma sombra em mim.

Mas ali, diante daquela mulher, pela primeira vez em muito tempo... eu respirava. E talvez, só talvez, o instinto soubesse o caminho melhor do que eu.

— Certo — murmurei, soltando o ar devagar. — Você pode voltar amanhã.

Ela me encarou, surpresa. Talvez esperasse mais resistência, ou que eu negasse e dissesse que ela devia ir embora.

Mas a verdade é que... eu não consegui. Talvez por causa dos olhos dela, talvez porque meu lobo não parasse de repetir que ela era nossa, ou talvez porque, mesmo que eu não admitisse, fazia tempo que esse lugar estava quieto demais.

Ela abriu um sorriso e, de repente, se lançou em meus braços. Meu corpo inteiro vibrou com aquele contato, e não tive dúvidas de que o dela também — a prova estava no rubor intenso que tingiu seu rosto.

Naquele instante, tive a certeza de que estava ferrado.

— Obrigada, Killiam. De verdade.

Ela ainda permanecia em meus braços quando nossos olhares se encontraram e se prenderam um no outro.

O vínculo entre nós parecia nos puxar com uma força invisível, e, sem que eu pudesse evitar, meus olhos foram atraídos para a curva de sua boca, a centímetros da minha.

Mas antes que algo pudesse acontecer, um pigarro nos trouxe de volta à realidade. Naquele momento, Suelen apareceu na cozinha, lançando um olhar curioso para Aurora e depois para mim.

— Hum, o idiota finalmente cedeu e te deu o emprego? — perguntou, fazendo Aurora se afastar rapidamente de mim.

— Sim, começo amanhã! — respondeu ela, visivelmente constrangida.

Suelen então voltou a olhar para mim e sorria, como se soubesse de algo que nem eu ainda conseguia entender. Mantive a expressão neutra — não mostraria mais do que o necessário. Já bastava o turbilhão que existia dentro de mim.

Aurora voltou para a pia, e eu fiquei ali, parado por alguns segundos, perdido no cheiro dela que ainda estava impregnado em mim — doce, sutil... viciante.

Havia algo nela que não era comum — um brilho nos olhos, uma firmeza na postura, uma coragem que muitos lobos não tinham. Algo me dizia que ela já tinha enfrentado mais do que deixava transparecer.

E algo em seu olhar me fez perceber que ela não pretendia ficar por muito tempo.

A simples ideia me incomodou mais do que eu gostaria de admitir. Meu lobo rosnou baixo dentro de mim, impaciente, como se também se recusasse a aceitar essa possibilidade.

Antes de deixar meu restaurante Aurora informou que estaria aqui logo cedo e que daria o melhor de si. Não tinha dúvidas quanto a isso, meus instintos sabiam que ela falava a verdade.

Mas, naquele momento, eu precisava me livrar de tudo que ela havia provocado em mim, antes que eu cedesse à vontade do meu lobo e fizesse o impensável.

Deixei o local quase em fuga, sentindo meu peito apertado, como se o lobo dentro de mim batesse contra as grades que o prendiam, exigindo o que acreditava ser seu por direito.

Eu precisava de um escape, uma válvula de alívio para o fogo que queimava sob minha pele. E só uma pessoa poderia me dar isso. O caminho até a casa de Nayara foi um borrão. Não pensei, apenas o caminho em minha mente.

Quando ela abriu a porta, não precisou de palavras — sabia exatamente por que eu estava ali.

Sem cerimônias, puxei-a para mim, meus lábios encontrando os dela com uma fome que ela desconhecia. As roupas caíram pelo chão em uma pressa quase selvagem.

Nayara sempre soube lidar com o lado bruto do meu desejo, e naquela noite não foi diferente.

Mas, em algum momento, enquanto meus lábios percorriam seu pescoço e meus movimentos se tornavam mais urgentes, minha mente traiçoeira substituiu a imagem de dela entregue, por outra.

A pele que eu tocava, os gemidos que ecoavam… tudo se tornou Aurora. O prazer se intensificou de um jeito quase doloroso, e eu me deixei levar, preso entre realidade e delírio.

Só quando o silêncio tomou minha mente e meu lobo se manteve afastado, percebi a verdade — não era Aurora quem estava comigo, mas, ainda assim, meu corpo atingiu o clímax que eu tanto precisava.

Por alguns instantes, pensei que aquela satisfação bastaria por alguns dias. Mas, estava completamente errado.

Ao subir as escadas para minha casa, percebi que meus pensamentos continuavam voltando para ela. Para a mulher que meu lobo já havia escolhido… e que eu tentava, inutilmente, não pensar.

Meu sexto sentido — aquele que nunca falhava, nem nos dias mais caóticos da alcateia — sussurrava com insistência que ela estava fugindo de algo ou de alguém, e isso me deixava em alerta.

Porque, se havia algo que eu aprendera depois de perder Jade, era reconhecer a dor nos olhos dos outros. E nos dela... havia cicatrizes que não se viam.

Minha impressão era de que Aurora era como um animal ferido — se chegasse muito perto, rápido demais, ela fugiria. E, naquele momento, percebi que não queria que ela fugisse.

Maldição.

Se fosse seguir por esse caminho, teria que engolir meu orgulho. Apenas uma pessoa poderia me ajudar a descobrir mais sobre ela. E, sinceramente? Era a última que eu precisava envolver.

Nathan... meu beta, pensei comigo mesmo, revirando os olhos. Isso significaria que minha irmã também saberia em breve sobre meus assuntos.

Nathan sempre teve um jeito de descobrir o que os outros não queriam dizer. Mais observador do que um beta precisava ser, tinha um um talento especial para descobrir a verdade.

Se Aurora estava mesmo fugindo, eu descobriria. Não para expô-la, mas para protegê-la. Mesmo que ela ainda não soubesse disso, mesmo que eu ainda estivesse tentando convencer a mim mesmo que não me importava tanto assim.

Aurora não havia procurado minha alcateia, o que seria o certo ao adentrar em território desconhecido. Mas de fato, ela não pareceu notar que ali existia uma.

No dia seguinte ela apareceu firme no restaurante, sem demonstrar muito e sem revelar quase nada sobre si.

Como não queria assustá-la tentei não fazer muitas perguntas, mas sabia que tinha algo errado. Um lobo não permaneceria tanto tempo sem estar ligada a uma alcateia. Isso era um risco para seu animal.

Chamei Suelen ao meu escritório, e notei imediatamente o olhar desconfiado que ela lançou em minha direção. Não era algo que eu fazia com frequência — na verdade.

— Onde ela está ficando? — perguntei, embora soubesse que poderia descobrir isso facilmente, sem precisar da ajuda dela.

— Por que você não pergunta diretamente a ela? — retrucou Suelen, com um sorriso provocador.

— Porque estou perguntando a você… Não posso colocar alguém aqui dentro sem saber o mínimo sobre a pessoa.

Ela sorriu ainda mais, balançando a cabeça, como se soubesse exatamente o que estava por trás da minha suposta preocupação.

— Começo a acreditar que essa garota mexeu com seu lobo mais do que está disposto a admitir.

Ela fez uma pausa, como se estivesse decidindo se dizia ou não o que sabia.

— Na verdade, ela ainda não tem um lugar fixo. Disse que ficou alguns dias na praia, outros no limite de nosso território.

— Por que ela ainda não procurou nossa alcateia? De onde ela veio? Ela sabe que sou o alfa?

— Não sei o motivo, Killiam, mas ela parece muito bem, ao meu ver. Eu não disse nada sobre você ser alfa, não falamos sobre alcateia. Ela não parece muito à vontade com isso — disse Suelen, tentando esconder sua preocupação.

Uma loba… evitando o assunto de alcateia?

Isso me pegou desprevenido. Mesmo os lobos que haviam rompido com suas origens, ainda precisavam mencionar sua alcateia. Mas ela… ela parecia querer apagar qualquer traço disso.

Minha mente voltou para o momento em que a vi pela primeira vez. Aqueles olhos grandes e atentos, a postura defensiva, o jeito como falava pouco, mas observava tudo… ela estava tentando se proteger. Mas de quê? Ou… de quem?

— E ela… mencionou se tinha alguém? — perguntei, tentando não parecer ansioso demais.

— Não. Ela parece que não gosta de falar muito sobre si. Estou de certa forma preocupada com isso, mas não quis invadir seu espaço.

— Diga que venha até aqui… preciso falar com ela.

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